A pobreza nos Açores, em 2009, era já a maior do
país e onde o coeficiente de gini, que mede o fosso dos rendimentos entre os
mais ricos e os mais pobres, já se mostrava ser o mais alto das regiões de
Portugal.
Em aparente contradição com esse dado de que
temos mais pobres por percentagem da população residente, aparece em ufana
alegria o regime socialista dos Açores, fantasiado de pai natal, a auto
elogiar-se de que os Açores estão mais ricos, somos quem mais vê aumentar a
riqueza por habitante.
É admirável, dir-se-ia, milagre! Não, isso só
poderia ser pecado à luz dos cânones poderosos que obrigam a que só exista uma
verdade: a verdade de que, se criamos mais riqueza, o socialismo já pode
sentir-se realizado em ajudar os pobres.
O problema, mesmo que em versão de conto de Natal
quando nem tudo tem um final feliz, é a riqueza aumentar mas com ela crescerem
as desigualdades, em especial as que resultam dos piores indicadores sociais
para os quais já várias vezes alertamos.
O que seria do socialismo sem pobres? Podia ser um
exercício bom para imaginar os Açores sem um regime orgulhoso de ver crescer a
riqueza e com isso aumentar as desigualdades e as diferenças de rendimento
entre os que mais têm e os que nada têm!
E quem se atrever a apontar estes defeitos a um
regime que só cuida de ter uma doutrina é tido por inimigo dos interesses colectivos
e do povo em geral e, por tabela, deles em particular.
Um sectarismo básico, acriançado, insultuoso para a
inteligência do cidadão médio, simplista e o que mais quiserem, seja em que
quadra for, é aquele argumento sempre colado a uma certa mesquinhice política e
num saloio bairrismo de que isto somos "nós e os outros"!
Sempre que insistem em nos querer convencer que só
existem os amigos da governança e os que a querem tomar, não posso deixar de
pensar que o perdão de que tanto se fala só pelo Natal e que se pode dar à
persistência de que somos todos os outros e eles são os que querem que assim
seja, mesmo que isso ofenda a lógica, o bom senso, e até o nosso poder de ter,
também, complacência, esse perdão - dizia - impele-nos a pensar em todas as
outras alturas do ano em que fazem por agora o querer merecer.
Também no Natal existem os que são pobres todo o ano
e que só veem um pouco de melhores condições de vida na solidariedade!
Mas na solidariedade não pode caber, apenas, o
assistencialismo que perpetua uma pobreza geracional, que passa de pais para
filhos, e que vive na dependência do regime a quem, ainda para mais, tem
de pedir: - por favor, ajudem!
A injustiça social e o dever de aproximar o
rendimento dos mais pobres dos níveis acima do limiar da pobreza não
complementa o valor assistencial de um regime exclusivamente dedicado a
consolidar uma pirâmide social onde o poder dispõe, pede ao povo que se
conforme e quem se opõe são os outros, os tais que querem tomar o poder, o
poder que é deles desde há já vinte anos!
Por todos os dias de há já demasiado tempo, enquanto
o poder mostra o seu fausto, muitos açorianos vivem com dificuldades. Pelos
seus lares entram alegrias fugazes em cabazes de Natal generosamente
oferecidos, mas onde todo o resto do ano se travam lutas que já eram as dos
seus pais por um rendimento contra a pobreza, a fome ou a marginalidade.
São esses açorianos que não chegam a ter tempo para
ouvir os seus governantes glorificar um suposto sucesso do seu regime.
É neles que gostaria de pensar também neste Natal.
Festas Felizes!