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Rádio Graciosa


07 março 2012

O artigo de opinião de hoje intitulado por “ Entre a Razão e o Coração “ é da Responsabilidade de Mercês Coelho



Entre a razão e o coração

Assisti no recente sábado à passagem dum grupo considerável de romeiros pelas ruas da nossa ilha, que desde há uma década, em cada ano, vêm engrossando nas suas fileiras um maior número de homens, crianças ou jovens.
Desconhecendo-se ao certo as suas raízes, em S. Miguel, a origem dessas peregrinações quaresmais remonta ao séc. XVII, relacionando-se a motivação delas, como uma consequência da crise de violentos terramotos que arruinou Vila Franca do Campo e parte da Ribeira Grande e que despertou a necessidade humana de se imporem penitências e sacrifícios. Então, grupos de homens caminhavam por período de tempo necessário para percorrer aquela ilha, sujeitos a intempéries, abrigando-se onde lhes davam tecto e algo para comer, deixando a família, o seu ganha pão, e o conforto da casa, para suplicarem bênções divinas de clemência à Virgem Maria. Consta que, com altos e baixos em diversas épocas, essa tradição naquela ilha nunca se interrompeu até aos dias de hoje, onde nomeadamente estão organizados em associações em várias localidades que congregam os seus militantes, informados por princípios de fraternidade, amizade e confraternização.

Mesmo assim, fico perplexa no porquê da criação e da natureza desse grupo aqui na Graciosa, descontextuado no tempo e no lugar, e particularmente do porquê excluírem do seu seio, a participação feminina, num apartheid de género, que julgo não fazer sentido nos dias que correm. Acreditando na veracidade da entrega nessas acções dos seus participantes e sem pretender ferir inúteis susceptibilidades na matéria, acentuo não compreender a exclusão feminina, se é verdade que as mulheres têm irrefutáveis provas dadas na participação efectiva na vida comunitária e serem portadoras de um elevado sentido de solidariedade e espiritualidade.
Questões inocentes, não deixam de ser questões!
Com esta objecção, reforço, não ser meu propósito desmerecer nas convicções e veracidade das atitudes de cada um, mas antes o gosto de partilhar a reflexão como um direito e um dever cívico, bem a propósito na data que amanhã se assinala.

Decorridos mais de cem anos sobre o móbil da criação dum dia internacional da mulher, as modas ditaram um figurino mais mercantilizado para referenciar a problemática que atinge as mulheres no mundo em geral, sendo certo que no Ocidente, e pelo menos, no plano dos princípios, às mulheres são reconhecidos direitos, a igualdade de oportunidades, seja no acesso à vida pública, à visibilidade e valia nas funções profissionais, seja no exercício da vida política, onde por vezes até atingem o plano mais elevado nas hierarquias.
Ainda assim, são evidentes muitas desigualdades ao nível das mentalidades que importa ultrapassar a bem da dignidade do ser humano, já que a mulher representa 52% da população mundial, ou como já foi chamado, “a metade do céu”.

Santa Cruz da Graciosa, 7 de Março de 2012

Maria das Mercês Coelho

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