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Rádio Graciosa


28 junho 2013

Notável desta semana é Manuel José do Conde


Manuel José do Conde nasceu a 5 de Abril de 1817, no lugar da Vitória, freguesia de Guadalupe, concelho de Santa Cruz da Graciosa, filho mais velho de Teodósio José do Conde e de sua mulher, Maria de Melo Pacheco. Os pais eram um casal de pequenos agricultores, que teve outros 5 filhos, vivendo uma vida de grande pobreza.

Em 1835, com 18 anos de idade, Manuel José abandonou a ilha clandestinamente, com destino ao Brasil, financiando a viagem, com a venda de um jumento que possuía.

Não existindo qualquer registo de que lhe tenha sido emitido passaporte, terá saído ilegalmente da ilha e entrado clandestinamente no Brasil e a 3 de Julho de 1838 apresentou-se no Consulado de Portugal na Bahia, indocumentado e em situação ilegal. Solicitou um passaporte, para o qual teve de apresentar abonadores e começou por ser padeiro em Salvador, residindo nas Portas da Ribeira.

Manuel José do Conde era um jovem de baixa estatura, cabelos louros e olhos claros, analfabeto, que depois de se legalizar no Brasil, mudou-se para a povoação ribeirinha de São Félix, onde se empregou numa padaria, propriedade de um dos mais influentes comerciantes locais.

Em 1839, mudou-se para Cachoeira, na margem oposta do rio e foi naquela cidade que montou, aparentemente com o apoio do ex-patrão de São Félix, uma padaria iniciando um negócio por conta própria.

Por não saber ler, precisou da assistência de uma jovem, filha do ex-patrão, de nome Eufrosina Ermelinda do Nascimento, com a qual por meados da década de 1840 passou a viver maritalmente. Era Eufrosina de ascendência africana e portuguesa, quem lia a escrita da empresa e mantinha a correspondência, ao mesmo tempo que foi ensinando Manuel a ler e escrever. Em 1848 tiveram o primeiro dos cinco filhos do casal, e em 1857, já fixados em Salvador, finalmente casaram.

Entretanto, Manuel José do Conde foi expandindo os seus negócios, passando primeiro por comercializar farinhas, actividade que manteria durante toda a sua vida, mas alargando depois a sua actividade aos negócios de importação e exportação e aos couros.

Em 1851 visitou a Europa, numa viagem de prospecção comercial, na mesma altura que adquiriu uma ilha no rio Paraguaçu, frente a Cachoeira, hoje denominada ilha da Mata-Onça, onde construiu armazéns.

Já com investimentos significativos em Salvador, em 1853, a família muda-se para aquela cidade, fazendo dela o centro dos seus negócios. Pouco depois, Manuel José já mantinha relações comerciais com Portugal e os Estados Unidos da América do Norte e tinha o seu próprio barco, de nome “o Conde”, que usava para transportar açúcar e couros para Lisboa, trazendo de volta a Salvador trigo e farinha. Fez-se também accionista de alguns bancos e seguradoras, entrando nos circuitos do grande capital.

A família fixou-se junto à igreja do Rosário, que daria depois o nome ao título do visconde, na zona que hoje é atravessada pela Avenida Sete de Setembro, adquirindo progressivamente múltiplos prédios na vizinhança e alguns armazéns com um molhe anexo que usava na sua actividade comercial.

Manuel José Conde subiu no panorama social quando, a 8 de Janeiro de 1864 foi admitido como irmão da Santa Casa da Misericórdia de Salvador, pagando 100$000 réis, e a 6 de Setembro de 1866 foi feito comendador da Ordem da Rosa.

Por esta altura reorganizou os seus negócios, fundando a empresa Conde & C.ª, que em 1875 passou a designar-se por Conde, Filho e C.ª, tendo como sócios o filho, Manuel José Conde Jr., que passou a gerir a empresa, e o genro.

Em 1874 esteve em Ponta Delgada com o seu navio, tendo aí encontrado alguns dos seus parentes graciosenses e ao verificar que na ilha Graciosa a miséria continuava, providenciou para que os seus sobrinhos se lhe juntassem no Brasil, o que aconteceu com uma única excepção. Um dos sobrinhos viria a casar com uma das suas filhas.

Nos anos de 1875 e 1876 permaneceu por largos períodos em Lisboa, onde mantinha relações comerciais com diversos empresários. Durante esta sua permanência deu-se a conhecer nos círculos ligados à política. Depois de ter feito uma vultosa doação ao Asilo D. Maria Pia, para adaptação do antigo Convento de Xabregas, por decreto de 16 de Dezembro de 1875, do rei D. Luís I de Portugal, foi feito visconde do Rosário.

Também em 1875 Manuel José resolveu fundar no seu lugar de nascimento, a Vitória, uma escola primária destinada ao sexo masculino. A escola foi inaugurada, numa casa para tal adquirida e equipada por ele, a 1 de Maio de 1876. O professor era também suportado pelo instituidor. Como o número de inscritos cresceu mais do que previsto, passava já de 70 alunos no ano de 1877. Assim contratou um ajudante para o professor e decidiu construir um edifício escolar de raiz.

A nova escola foi construída em 1878, num terreno adquirido pelo visconde, com duas salas de aula e moderno equipamento escolar. O edifício, legado pelo visconde à Câmara Municipal, mantém-se quase inalterado, ostentando sobre a porta o brasão do instituidor, em lioz.
Depois de funcionar algumas décadas com professor pago pelo visconde e seus herdeiros, a escola foi integrado na rede pública, com a denominação de Escola Visconde do Rosário, por portaria de 19 de Dezembro de 1900.

A partir daí passa a figurar bastas vezes nas colunas sociais lisboetas, particularmente a partir de 1879, ano em que fixa residência em Lisboa.

A instalação definitiva dá-se em 1881, quando adquire o palácio que fora dos condes de Aveiras, no Largo de São Cristóvão, em Lisboa, no qual passa a viver com a mulher e uma filha. A outra filha, Maria Clementina Conde, casada com Manuel dos Santos Neves, sócio da empresa dos Conde, também se fixou em Lisboa, mas noutra residência.

Em Lisboa, Manuel José Conde passou a frequentar os círculos sociais das famílias mais abastadas e integrou os órgãos sociais de algumas empresas. Contudo, aquela foi essencialmente uma fase de reforma, mais voltada para a vida social do que para o comércio, já que empresa familiar, embora com constantes conselhos paternos, patentes na volumosa correspondência que sobreviveu, era agora gerida em Salvador pelo filho Manuel José Conde Jr.

A 28 de Janeiro de 1889 faleceu a viscondessa do Rosário, Eufrosina Ermelinda do Nascimento e Manuel José do Conde ficava viúvo.

A partir da daí, a vida de Manuel José passou a ser dominada pela filha Maria Clementina, que tinha uma paixão pela vida social, sendo frequente notícia da imprensa lisboeta. Padecendo da bexiga e canais biliares, Manuel José ainda celebrou em estilo o seu 80.º aniversário, com festa e baile no seu palácio, de que a imprensa deu amplo eco.

Depois, decidiu partir com o filho para Paris à procura de tratamento para as suas doenças. Saiu de Lisboa a 11 de Maio de 1897, pouco tempo se demorou em França, pois a 18 de Maio seguiu para Londres. Em Londres não teve melhor sorte, já que os seus problemas de saúde se agravaram e faleceu a 6 de Junho.

Foi trasladado para Lisboa, onde o corpo chegou a 14 de Junho, a bordo de um vapor vindo de Southampton.

Manuel José do Conde foi feito visconde do Rosário por decreto de 16 de Dezembro de 1875, do rei D. Luís I de Portugal.

O primeiro e único visconde do Rosário, Manuel José do Conde foi um emigrante graciosense, que enriqueceu no Brasil. Aquele que começou como padeiro conseguiu criar um grande império comercial que se traduziu numa grande fortuna e nunca esqueceu as suas origens, sendo um dos grandes beneméritos da ilha Graciosa, contribuindo generosamente para a Santa Casa da Misericórdia de Santa Cruz, construindo e equipando, à sua custa, uma escola no seu lugar natal da Vitória, Guadalupe, cujo professor pagava.

Um graciosense notável e acima de tudo um exemplo para todos, que a Rádio Graciosa homenageia.

 

 

 

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