Manuel José do
Conde
nasceu a 5 de Abril de 1817, no lugar da Vitória, freguesia de Guadalupe,
concelho de Santa Cruz da Graciosa, filho mais velho de Teodósio José do Conde
e de sua mulher, Maria de Melo Pacheco. Os pais eram um casal de pequenos
agricultores, que teve outros 5 filhos, vivendo uma vida de grande pobreza.
Em 1835, com 18
anos de idade, Manuel José abandonou a ilha clandestinamente, com destino ao
Brasil, financiando a viagem, com a venda de um jumento que possuía.
Não existindo
qualquer registo de que lhe tenha sido emitido passaporte, terá saído
ilegalmente da ilha e entrado clandestinamente no Brasil e a 3 de Julho de 1838
apresentou-se no Consulado de Portugal na Bahia, indocumentado e em situação
ilegal. Solicitou um passaporte, para o qual teve de apresentar abonadores e
começou por ser padeiro em Salvador, residindo nas Portas da Ribeira.
Manuel José do
Conde era um jovem de baixa estatura,
cabelos louros e olhos claros, analfabeto, que depois de se legalizar no
Brasil, mudou-se para a povoação ribeirinha de São Félix, onde se empregou numa
padaria, propriedade de um dos mais influentes comerciantes locais.
Em 1839,
mudou-se para Cachoeira, na margem oposta do rio e foi naquela cidade que montou,
aparentemente com o apoio do ex-patrão de São Félix, uma padaria iniciando um
negócio por conta própria.
Por não saber
ler, precisou da assistência de uma jovem, filha do ex-patrão, de nome
Eufrosina Ermelinda do Nascimento, com a qual por meados da década de 1840
passou a viver maritalmente. Era Eufrosina de ascendência africana e
portuguesa, quem lia a escrita da empresa e mantinha a correspondência, ao
mesmo tempo que foi ensinando Manuel a ler e escrever. Em 1848 tiveram o
primeiro dos cinco filhos do casal, e em 1857, já fixados em Salvador,
finalmente casaram.
Entretanto,
Manuel José do Conde foi expandindo os seus negócios, passando primeiro por
comercializar farinhas, actividade que manteria durante toda a sua vida, mas
alargando depois a sua actividade aos negócios de importação e exportação e aos
couros.
Em 1851 visitou
a Europa, numa viagem de prospecção comercial, na mesma altura que adquiriu uma
ilha no rio Paraguaçu, frente a Cachoeira, hoje denominada ilha da Mata-Onça,
onde construiu armazéns.
Já com
investimentos significativos em Salvador, em 1853, a família muda-se para
aquela cidade, fazendo dela o centro dos seus negócios. Pouco depois, Manuel
José já mantinha relações comerciais com Portugal e os Estados Unidos da
América do Norte e tinha o seu próprio barco, de nome “o Conde”, que usava para transportar
açúcar e couros para Lisboa, trazendo de volta a Salvador trigo e farinha.
Fez-se também accionista de alguns bancos e seguradoras, entrando nos circuitos
do grande capital.
A família
fixou-se junto à igreja do Rosário, que daria depois o nome ao título do
visconde, na zona que hoje é atravessada pela Avenida Sete de Setembro,
adquirindo progressivamente múltiplos prédios na vizinhança e alguns armazéns
com um molhe anexo que usava na sua actividade comercial.
Manuel José
Conde subiu no panorama social quando, a 8 de Janeiro de 1864 foi admitido como
irmão da Santa Casa da Misericórdia de Salvador, pagando 100$000 réis, e a 6 de
Setembro de 1866 foi feito comendador da Ordem da Rosa.
Por esta altura
reorganizou os seus negócios, fundando a empresa Conde & C.ª, que em 1875 passou a designar-se por Conde, Filho e C.ª, tendo como sócios
o filho, Manuel José Conde Jr., que passou a gerir a empresa, e o genro.
Em 1874 esteve
em Ponta Delgada com o seu navio, tendo aí encontrado alguns dos seus parentes
graciosenses e ao verificar que na ilha Graciosa a miséria continuava,
providenciou para que os seus sobrinhos se lhe juntassem no Brasil, o que
aconteceu com uma única excepção. Um dos sobrinhos viria a casar com uma das
suas filhas.
Nos anos de 1875
e 1876 permaneceu por largos períodos em Lisboa, onde mantinha relações
comerciais com diversos empresários. Durante esta sua permanência deu-se a
conhecer nos círculos ligados à política. Depois de ter feito uma vultosa
doação ao Asilo D. Maria Pia,
para adaptação do antigo Convento de Xabregas, por decreto de 16 de Dezembro de
1875, do rei D. Luís I de Portugal, foi feito visconde do Rosário.
Também em 1875
Manuel José resolveu fundar no seu lugar de nascimento, a Vitória, uma escola
primária destinada ao sexo masculino. A escola foi inaugurada, numa casa para
tal adquirida e equipada por ele, a 1 de Maio de 1876. O professor era também
suportado pelo instituidor. Como o número de inscritos cresceu mais do que
previsto, passava já de 70 alunos no ano de 1877. Assim contratou um ajudante
para o professor e decidiu construir um edifício escolar de raiz.
A nova escola
foi construída em 1878, num terreno adquirido pelo visconde, com duas salas de
aula e moderno equipamento escolar. O edifício, legado pelo visconde à Câmara
Municipal, mantém-se quase inalterado, ostentando sobre a porta o brasão do
instituidor, em lioz.
Depois de funcionar algumas décadas com professor pago pelo visconde e seus herdeiros, a escola foi integrado na rede pública, com a denominação de Escola Visconde do Rosário, por portaria de 19 de Dezembro de 1900.
Depois de funcionar algumas décadas com professor pago pelo visconde e seus herdeiros, a escola foi integrado na rede pública, com a denominação de Escola Visconde do Rosário, por portaria de 19 de Dezembro de 1900.
A partir daí
passa a figurar bastas vezes nas colunas sociais lisboetas, particularmente a
partir de 1879, ano em que fixa residência em Lisboa.
A instalação
definitiva dá-se em 1881, quando adquire o palácio que fora dos condes de
Aveiras, no Largo de São Cristóvão, em Lisboa, no qual passa a viver com a
mulher e uma filha. A outra filha, Maria Clementina Conde, casada com Manuel
dos Santos Neves, sócio da empresa dos Conde, também se fixou em Lisboa, mas
noutra residência.
Em Lisboa,
Manuel José Conde passou a frequentar os círculos sociais das famílias mais
abastadas e integrou os órgãos sociais de algumas empresas. Contudo, aquela foi
essencialmente uma fase de reforma, mais voltada para a vida social do que para
o comércio, já que empresa familiar, embora com constantes conselhos paternos,
patentes na volumosa correspondência que sobreviveu, era agora gerida em
Salvador pelo filho Manuel José Conde Jr.
A 28 de Janeiro
de 1889 faleceu a viscondessa do Rosário, Eufrosina Ermelinda do Nascimento e
Manuel José do Conde ficava viúvo.
A partir da daí,
a vida de Manuel José passou a ser dominada pela filha Maria Clementina, que
tinha uma paixão pela vida social, sendo frequente notícia da imprensa
lisboeta. Padecendo da bexiga e canais biliares, Manuel José ainda celebrou em
estilo o seu 80.º aniversário, com festa e baile no seu palácio, de que a
imprensa deu amplo eco.
Depois, decidiu
partir com o filho para Paris à procura de tratamento para as suas doenças.
Saiu de Lisboa a 11 de Maio de 1897, pouco tempo se demorou em França, pois a
18 de Maio seguiu para Londres. Em Londres não teve melhor sorte, já que os
seus problemas de saúde se agravaram e faleceu a 6 de Junho.
Foi trasladado
para Lisboa, onde o corpo chegou a 14 de Junho, a bordo de um vapor vindo de
Southampton.
Manuel José do
Conde foi feito visconde do Rosário
por decreto de 16 de Dezembro de 1875, do rei D. Luís I de Portugal.
O primeiro e único visconde do Rosário, Manuel José do Conde foi um emigrante graciosense, que
enriqueceu no Brasil. Aquele que começou como padeiro conseguiu criar um grande
império comercial que se traduziu numa grande fortuna e nunca esqueceu as suas
origens, sendo um dos grandes beneméritos da ilha Graciosa, contribuindo
generosamente para a Santa Casa da Misericórdia de Santa Cruz, construindo e
equipando, à sua custa, uma escola no seu lugar natal da Vitória, Guadalupe,
cujo professor pagava.
Um graciosense notável e acima de tudo um exemplo
para todos, que a Rádio Graciosa homenageia.


sexta-feira, junho 28, 2013
Rádio Graciosa
