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Rádio Graciosa


20 setembro 2011

Artigo de Opinião de João Costa intitulado “Coesão só no papel”.

No último ano, a Graciosa expressou o seu descontentamento acerca da frequência e horários dos aviões da SATA durante o inverno IATA.

O governo desculpou-se com o fato dos aviões serem maiores e por isso terem maior oferta de lugares e de carga!

E não passou disso mesmo, de uma desculpa que revela um total alheamento sobre os entraves que a falta de acessibilidades e de mobilidade colocam ao desenvolvimento da ilha Graciosa.

Ao lermos as ufanas declarações de membros do governo e deputados do PS sobre o seu plano eleitoral para a coesão dos Açores, que para o governo é apenas um plano de estratégia eleitoral, não podemos deixar de ficar preocupados com o confronto entre as intenções declaradas e a realidade praticada.

Há fatos que são indesmentíveis: A Graciosa foi a ilha que mais população perdeu de acordo com os dados do censos de 2011. A ilha tinha em 1991, 5152 residentes, passando em vinte anos para 4384.

Esta verdade condiciona as perspetivas de futuro da ilha, o que tem sido ignorado pelo atual governo que, em 15 anos de poder já devia ter agido para inverter esta situação.

E não se diga que 4 mil habitantes é um número que fica bem à Graciosa ou que a ilha não tem condições para suportar mais. Basta ver que em 1940 a ilha tinha 9 mil residentes e em 1950 contava com mais 500, ou seja, um aumento de cerca de 6%. A explicação para estes números estará intrinsecamente ligada com as potencialidades produtivas da ilha que, em tempos, foi o celeiro e a adega dos Açores.

Mas se hoje as realidades são distintas, a graciosa não deixou de ter grandes potencialidades produtivas que, aliadas a um bom sistema de transportes e a um virar de página no isolamento, certamente significariam um caminho seguro para atrair gentes e juventude à ilha.

Mas assim não o entendem a SATA e o governo regional, porque, caso contrário não massacrariam a ilha com invernos de dificuldade em acessibilidades e mobilidade.

No fundo, como em muitas outras coisas, quando se fala na ilha Graciosa a propaganda esconde o insucesso das políticas seguidas. Fala-se de coesão, escreve-se a favor da coesão, até se apresentam estratégias de coesão. Mas o resultado fica longe do que seria exigível, e então lá vem mais do mesmo.

Os velhos e recauchutados horários da SATA não são um pormenor para a verdadeira coesão e para a aposta que se exige no combate à desertificação.

Algo terá de mudar para que a coesão saia do papel.

 
 
João Bruto da Costa

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