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Rádio Graciosa


01 junho 2016

Artigo de Opinião de João Costa intitulado “Reduzir a dependência externa - criar riqueza”

A ilha Graciosa já foi conhecida como o celeiro dos Açores.
A história recorda-nos que a pequena ilha, situada mais a norte do grupo central, tem condições edafóclimáticas únicas para a produção agrícola. O seu elevado estatuto sanitário alarga as potencialidades da ilha a que se somam condições para produção de hortícolas e frutícolas, ou mesmo vinho, que em tempos levou a extraordinárias exportações.
Andamos, há demasiados anos, a reforçar esta ideia de que esta ilha podia voltar a ser, não propriamente o “celeiro” dos Açores mas, em certa medida, a “horta” ou o “pomar” das ilhas.
Toca fundo aos Graciosenses a constatação de que, de ano para ano, as oportunidades não surgem, pois o isolamento e a falta de um transporte marítimo que responda a uma exigência de mercado interno anulam o surgimento de projectos que elevem a escala produtiva para fornecer mercados com dimensão muito superior ao local.
A recente greve no porto de Lisboa revelou a dependência insular e o seu isolamento no que toca a diferentes vertentes, mas que impressiona pela fragilidade até na distribuição de frutas, deixando ilhas de prateleiras vazias.
Em tempos idos, em que as ilhas ficavam de facto isoladas em relação a Lisboa, fomos capazes de produzir e vivenciar um mercado interno. As ilhas complementavam-se em muitas produções e as trocas comerciais entre elas respondiam à necessidade de abastecer o mercado. Nesse tempo havia viagens e regularidade no transporte marítimo que, diga-se, era de passageiros e mercadorias. Nesse tempo não se ouviam vozes a dizer que não apreciávamos o mar, nesse tempo havia gentes da Graciosa a vender os seus produtos por esses Açores fora, pois, mesmo com a dureza de viagens em navios dessa época, era possível embarcar as produções da ilha, abastecendo outros mercados deficitários de produtos que a Graciosa produzia.
A expressão: “na agricultura açoriana podemos fazer tudo o que nos der na “real gana”, porque tudo dá” muito usada por meu avô há mais de 70 anos quando o meu pai foi estudar para fora, é daqueles ensinamentos antigos que por vezes gosto de lembrar. A verdade é que não podemos ignorar que os Açores possuem capacidades produtivas abandonadas e que algumas só deixaram de vingar porque as ilhas voltaram costas umas às outras e se tornaram dependentes do exterior de uma forma absolutamente impensável e até contrária a qualquer estratégia de desenvolvimento.
Perante isto, sou tomado sempre por uma certa nostalgia de voltar a ver nos nossos mares uma frota decente de navios de mercadorias e passageiros que, várias vezes por semana, escalavam ilhas como a pequena Graciosa e potenciavam a sua economia e o viver das suas gentes.
Bem sei que isso já foi prometido e que, por outro lado, continuamos a ouvir os mesmos de sempre a dizer que não precisamos de mudar nada no transporte marítimo de mercadorias e, imagine-se, nem sequer precisamos de estudar o modelo, pois este, segundo dizem, serve perfeitamente as necessidades dos Açores como afirmava o PS e o seu representante da Graciosa no parlamento regional há bem pouco tempo.
Pois bem, bastou uma greve para provar que a realidade é bem diferente dos interesses que se vão defendendo por aí.
E a realidade, mesmo que isso doa a quem se acomodou ao poder onde permanece há 20 anos, é de que os Açores podem, de facto, ambicionar reduzir certas dependências, ao mesmo tempo que podemos retomar um mercado interno que promova a produção das ilhas e com ela dar emprego e riqueza aos seus habitantes.




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