A história recorda-nos que a pequena ilha, situada mais a
norte do grupo central, tem condições edafóclimáticas únicas para a produção
agrícola. O seu elevado estatuto sanitário alarga as potencialidades da ilha a
que se somam condições para produção de hortícolas e frutícolas, ou mesmo
vinho, que em tempos levou a extraordinárias exportações.
Andamos, há demasiados anos, a reforçar esta ideia de que
esta ilha podia voltar a ser, não propriamente o “celeiro” dos Açores mas, em
certa medida, a “horta” ou o “pomar” das ilhas.
Toca fundo aos Graciosenses a constatação de que, de ano
para ano, as oportunidades não surgem, pois o isolamento e a falta de um
transporte marítimo que responda a uma exigência de mercado interno anulam o
surgimento de projectos que elevem a escala produtiva para fornecer mercados
com dimensão muito superior ao local.
A recente greve no porto de Lisboa revelou a dependência
insular e o seu isolamento no que toca a diferentes vertentes, mas que
impressiona pela fragilidade até na distribuição de frutas, deixando ilhas de
prateleiras vazias.
Em tempos idos, em que as ilhas ficavam de facto isoladas em
relação a Lisboa, fomos capazes de produzir e vivenciar um mercado interno. As
ilhas complementavam-se em muitas produções e as trocas comerciais entre elas
respondiam à necessidade de abastecer o mercado. Nesse tempo havia viagens e
regularidade no transporte marítimo que, diga-se, era de passageiros e
mercadorias. Nesse tempo não se ouviam vozes a dizer que não apreciávamos o
mar, nesse tempo havia gentes da Graciosa a vender os seus produtos por esses
Açores fora, pois, mesmo com a dureza de viagens em navios dessa época, era
possível embarcar as produções da ilha, abastecendo outros mercados
deficitários de produtos que a Graciosa produzia.
A expressão: “na agricultura açoriana podemos fazer tudo o que nos der na “real gana”,
porque tudo dá” muito usada por meu avô há mais de 70 anos quando o meu
pai foi estudar para fora, é daqueles ensinamentos antigos que por vezes gosto
de lembrar. A verdade é que não podemos ignorar que os Açores possuem
capacidades produtivas abandonadas e que algumas só deixaram de vingar porque
as ilhas voltaram costas umas às outras e se tornaram dependentes do exterior
de uma forma absolutamente impensável e até contrária a qualquer estratégia de
desenvolvimento.
Perante isto, sou tomado sempre por uma certa nostalgia de
voltar a ver nos nossos mares uma frota decente de navios de mercadorias e
passageiros que, várias vezes por semana, escalavam ilhas como a pequena
Graciosa e potenciavam a sua economia e o viver das suas gentes.
Bem sei que isso já foi prometido e que, por outro lado,
continuamos a ouvir os mesmos de sempre a dizer que não precisamos de mudar
nada no transporte marítimo de mercadorias e, imagine-se, nem sequer precisamos
de estudar o modelo, pois este, segundo dizem, serve perfeitamente as
necessidades dos Açores como afirmava o PS e o seu representante da Graciosa no
parlamento regional há bem pouco tempo.
Pois bem, bastou uma greve para provar que a realidade é bem
diferente dos interesses que se vão defendendo por aí.
E a realidade, mesmo que isso doa a quem se acomodou ao
poder onde permanece há 20 anos, é de que os Açores podem, de facto, ambicionar
reduzir certas dependências, ao mesmo tempo que podemos retomar um mercado
interno que promova a produção das ilhas e com ela dar emprego e riqueza aos
seus habitantes.