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Rádio Graciosa


18 maio 2016

L'état c'est nous

Desde algum tempo que pensava neste título para uma crónica semanal e surgiu após o PS tentar associar a ideia de que o sucesso do conceito constitucional de região autónoma estava intimamente ligado aos bons ofícios da governação.
Agora comprovou-se que Vasco Cordeiro gosta da comparação entre o sucesso da autonomia e o sucesso, ou a falta dele, na governação.
A comprová-lo surge, também, a corrente, ligada ao partido no poder, de que criticar, denunciar e demonstrar a má governação dos Açores seria atacar o conceito de autonomia, a ideia de um governo dos Açores pelos açorianos e em como esse governo cumpre o desígnio constitucional de região autónoma.
A questão não é se isso pode ou não ser comparável. A questão é que quando se faz depender o sucesso da autonomia do sucesso da governação, e que o insucesso da governação seria, portanto, o fracasso da autonomia, pretende-se que quem se opõe à governação, mesmo que esta tenha um péssimo desempenho, deseja o fracasso da autonomia. E isso, mais do que ser falso, assume-se como uma forma fascista de encarar o exercício da governação.
Quando a existência da forma constitucional de região autónoma é posta em causa por se pôr em causa a forma como é exercida a governação e os seus resultados é o mesmo que dizer que para existir autonomia só este governo, este partido e este presidente podem governar, e isso, quer se queira ou não queira, é um regime que, conceptualmente, se define de forma equivalente a um regime fascista. A analogia pode ser feita, o que não se pode fazer é estatuir que por se indiciar o insucesso da governação se está a colocar em causa a existência da autonomia.
Porém, porque a verdadeira história de sucesso da autonomia depende dos Açores serem governados pelos açorianos, e a sua permanente realização depende dos açorianos decidirem o seu futuro, quando nos vemos sem poder definir o nosso futuro e dependentes do poder de outros para valer as nossas razões tornamo-nos um poder reivindicativo e não poder deliberativo.
Aí já podemos falar de retrocesso na realização autonómica, no seu devir, na sua concretização.
Na medida em que os resultados da governação limitam a nossa capacidade de decisão, cheios de dívidas, com os piores indicadores sociais e, ainda, com uma tempestade perfeita na agricultura e um resgate nas pescas, aí sim, podemos falar em fracasso do governo autonómico.
Ser o próprio poder instituído a querer estabelecer esta relação umbilical que depois liga a um partido político é, manifestamente, revelador.
No fundo, quando a única intenção é criar um estigma sobre os insucessos e a crise que atravessamos percebemos que estamos perante o pior governo de sempre da autonomia constitucional e democrática.
Um poder com 20 anos que deixa a maior crise de sempre na concretização do regime autonómico de governo próprio, e que se pretende manter, agarrado ao edifício constitucional e na sombra deste, ao mesmo tempo que institui uma partidarização das instituições regionais ou da sociedade civil, e que perante péssimos resultados se vê na necessidade de justificar a sua permanência na governação, materializa, mesmo que em democracia, um absolutismo, em que eles são o Estado e o Estado só se concretiza neles.
Paradoxalmente vemo-nos perante a única resposta deixada como possível para que o sucesso da autonomia não tenha de continuar condicionado aos maus resultados da governação, e que se traduz num imperativo de mudança.

A mudança de que os Açores precisam!

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