Coesão? Ainda a ver navios
No final da passada semana a Transmaçor anunciou o reforço
das viagens marítimas dos navios "Gilberto Mariano" e "Mestre
Simão" nas ilhas do triângulo, consagrando, igualmente, duas ligações
semanais com a ilha Terceira. De fora fica, mais uma vez, a ilha Graciosa.
É de louvar que se reforce o número de viagens na época
estival. Afinal, assim o obriga a necessidade de acessibilidades nas ilhas do
Grupo Central, aumentando as possibilidades de maior movimento de pessoas e
reforçando a coesão. Mas a exclusão sistemática da ilha Graciosa desta operação
é um factor de discriminação inaceitável que empurra para fora de qualquer
plano de coesão social, económica e territorial a mais pequena ilha do Grupo
Central.
É escusado voltar a referir todas as potencialidades da ilha
Graciosa que se desvalorizam com este tipo de políticas de transportes. E mais
escusado será a necessidade de elencar todas as contrariedades da ilha
continuar a ser excluída numa operação que, em tempos, até tinha como obrigação
de serviço público as viagens entre o triângulo e a ilha Graciosa.
Mas não posso deixar de referir aquilo que é mais uma
"traição" aos legítimos anseios de uma comunidade que vê goradas
quaisquer expectativas de poder sentir-se integrada num conceito de autonomia
solidária, em que se complementam os esforços de todos para que ninguém fique
para trás.
E a verdade é que a Graciosa está a ficar cada vez mais para
trás, pelo repetido esquecimento daquilo que são as suas necessidades.
Quando, em 2012, as propostas apresentadas pelos diferentes
partidos concorrentes às eleições regionais incluíam uma concretização de um
verdadeiro mercado interno e quando estamos a mais de meio da legislatura os
graciosenses perguntam-se: para quando? Para quando é que terão oportunidade de
fazer escoar os seus produtos? Para quando poderão ambicionar o famoso aumento
de escala para a sua economia? Para quando serão cumpridas as promessas que,
legislatura após legislatura, lhe são feitas e que teimam em não ser
concretizadas?
A resposta é mais simples do que à primeira vista parece e
os Graciosenses já a conhecem: só com a mudança de políticas se poderá vir a
assistir a uma autêntica alteração do paradigma do isolamento a que estão a
condenar a ilha, isolada pela falta de mobilidade, pela falta de
acessibilidades, pela falta de compreensão para o perigo do desequilíbrio
social e económico que tem origem na desertificação e na descrença crescente
entre as suas gentes.
No ano passado, perante as notícias de que os navios da
Transmaçor não iriam escalar a Graciosa, ouvimos Presidente da Câmara e
destacados responsáveis políticos ligados ao Governo afirmar que isso até era
melhor porque a ilha seria servida pelos navios da Atlanticoline (!!!).
Foram afirmações que chocaram pela ofensa que constituíram à
inteligência dos graciosenses. Não sei que "conversas" hoje terão
esses responsáveis para dizer aos graciosenses sobre mais um ano sem bons
transportes para a Graciosa, pois nem os horários da Atlanticoline servem a
ilha em condições, nem os navios da Transmaçor irão escalar a Graciosa. Nem tão
pouco já interessa muito aos graciosenses as justificações de quem apenas se
preocupa em defender o indefensável, ignorando quem é o verdadeiro credor da
sua lealdade e que são os eleitores. O que os graciosenses queriam mesmo é não
ser sempre apenas as vítimas dos ciclos eleitorais, em que de 4 em 4 anos
voltam a assistir a promessas ou medidas que só surgem para conquistar votos.