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Rádio Graciosa


22 outubro 2014

Opinião de João Costa "Afinal quem é que manda?"

A Comissão dos Assuntos sociais presenciou duas situações com várias semelhanças e que geram alguma perplexidade sobre o que, de facto, está a acontecer com os Açores e o seu regime governativo.
O poder regional está concentrado num partido há já 18 anos, algo que levou recentemente Osvaldo Cabral a apelidar de "Califado" um conjunto de situações, resultado dessa mesma concentração. Mas a somar ao poder imanado pelos "califas" dos Açores encontramos manifestações de um poder que talvez seja de questionar.
Alguns desses sinais revelaram-se na referida comissão parlamentar, na audição de diferentes secretários regionais.
Comecemos pelo Secretário da Saúde, que em comissão parlamentar asseverou não conhecer uma acta do conselho de administração do Hospital da Terceira, acta essa onde constava uma descrição que surgiu agora na comunicação social em que se denunciavam situações graves na unidade de cuidados intensivos daquele hospital. O Secretário lá foi dizendo que sabia dos problemas, que os problemas lhe haviam sido comunicados, mas que nunca lhe haviam dado a conhecer os referidos escritos que apenas conheceu agora na integra pela comunicação social e, por isso, só agora entendeu abrir um procedimento inspectivo sobre os factos denunciados e a resolução dada aos mesmos. No fundo, alguém escondeu ao Secretário Regional uma relevantíssima informação, tão relevante que é necessário uma averiguação muitos meses depois desses factos se terem tornado de tal forma insuportáveis que acabaram vertidos numa acta do conselho de administração, escondida de um Secretário Regional.
Surgiu, ainda, a audição do novo Secretário da Educação que ouvido sobre os problemas gerados com espectáculos realizados numa igreja, ao arrepio do acordado quer regionalmente em acordos da região com o culto católico, quer internacionalmente com o Estado Português e a Santa Sé. O actual titular da educação e cultura asseverou desconhecer um alegado despacho do seu antecessor que recomendava, vivamente, a não nomeação do Director do Museu de Angra do Heroísmo, cargo de nomeação política, entretanto renovado. O dito despacho era assim desconhecido do titular da educação e cultura, mesmo sendo um documento de grande relevância, sobretudo quando se está em transição de pasta numa secretaria governamental, com a agravante de ser do mesmo governo regional e pelo facto do agora Secretário Regional dizer que se fosse hoje já não teria procedido da mesma forma com a nomeação referida.
De um lado, não é dado a conhecer ao Secretário da tutela uma acta com elementos de tal forma graves que passados 8 meses aparece na comunicação social e leva a averiguações administrativas. Do outro, um despacho ocultado de um Secretário Regional, recomendando uma não nomeação que iria ocorrer em breve, omitindo, assim, relevante informação a um novo titular de uma pasta governamental.
Estes tornaram-se casos conhecidos. Mas é legítimo questionar quantas mais revelações importantes estão a ser sonegadas aos titulares das pastas de governo, que depois abrem inquéritos e investigações internas, mas que não serão mais do que isso: acções administrativas! E que levam à confissão de membros do Governo que nada sabem sobre o que se passa realmente na máquina que deviam governar. Curiosamente estes dois casos ocorreram na ilha Terceira, mas isso será, também, apenas uma coincidência.
No entanto, uma questão sobrevirá: afinal, além dos "califas", quem manda nos Açores?
 

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