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Rádio Graciosa


17 fevereiro 2012

Espaço de Opinião de hoje intitulado de “Divagações sobre o Carnaval na Graciosa” é da responsabilidade de Maria das Mercês Coelho


Divagações sobre o Carnaval na Graciosa



Nos dias de hoje a globalização e a sociedade de informação fizeram-nos cidadãos do mundo.

Segue no pelotão da frente da imagética da época, o Carnaval do Brasil, particularmente vistoso com os desfiles das escolas de samba, cujo clima quente, potencia o culto do corpo, onde esculturais mulheres se exibem a olhares cobiçosos, a que se segue um cortejo dançante, repleto de plumas e de exuberantes adereços e carros alegóricos dançando ao ritmo do samba, qual “hino” da festa.

Por outros países e noutras culturas e épocas, o Carnaval foi evoluindo até ao figurino actual onde a cor e o exagero são permitidos.

Terá uma forte componente comercial, mas é também o resultado duma empenhada envolvência humana.



A ilha copia, à dimensão dos seus meios, os hábitos e as folias que o mundo foi conseguindo transformar, adaptando-se a uma época em que os excessos e a alegria são o prato forte da libertação dum quotidiano comum. Porventura, de realizações contidas, de mágoas sofridas, ou de expectativas por cumprir. Ou nem uma coisa nem outra. Procura-se tão só, assumir um tempo de pura imaginação, de brincar teatralizando, pretexto de fantasiar a vida e meter na pele outras culturas ou outros trajes, que nos são distantes, mas nos despertam a curiosidade.



O Carnaval da Graciosa é uma festa animada, intimista e muito nossa, porque convoca a maioria da sua população para os convívios nos clubes, que abrem portas com bailes animados por música ao vivo, onde se cruzam gerações de novos e velhos, envolvidos pelo mesmo sentimento de desprendimento das rotinas da vida.

Sem me deter em raízes históricas de maior aprofundamento, e menos ainda, nas sequelas psicológicas num tempo socialmente fechado, trago na memória as minhas vivências e mais aquelas que me foram narradas.



As nossas festividades fazem-se e faziam-se dentro de salões - fosse porque o Inverno marcava presença com temporais e ventanias, fosse porque o recato social a isso obrigava. Algumas casas abriam-se a convidados em “assaltos” onde se brindavam amigos, mas também se recebiam os “mascarados” de caras cobertas, sob a responsabilidade de algum elemento que exibia as faces e se responsabilizava pelo grupo. Depois foram as colectividades nas suas sedes, com alguma precariedade de meios, e de conforto muito longe do actual, que tomaram a iniciativa e se esmeravam por oferecer o melhor propiciando encontros.

Hoje os meios são diferentes e o comércio estimula a transformação, nos trajes, nas decorações e em tudo o que é exterior.

Mudou a alma? Mudou o nosso interior?

No essencial, julgo que não. A comunidade participa e diverte-se, simultaneamente espectadora e actora. E convive envolvendo-se, quase à própria exaustão.



José Berto em 2007 ofereceu-nos um poema, que espalhou pelas mesas dos cafés, de que leio expressivo um excerto do significado da festa:

Ilha aberta

Recebe a brincar

No pulo desperta

Ondas de mar.



Fantasias

Cores da Ilha

Apitos a desafinar

Pernas que voam

Pés de batuque

Papel picado

Fitas desenroladas.



Fantasias, que logo acabam e a vida gira, rolando. Cumprido o Carnaval, os convívios perduram, porque são o resultado da nossa dimensão de pouca terra, pouca gente.

O futuro dirá que Carnaval nos espera, mas com ou sem o feriado da 3ª feira, é ainda genuína e nossa a festa.



Graciosa, 17 de Fevereiro de 2012



Maria das Mercês Coelho

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