O estado social sobreviverá?
Não será que ao actual convívio global das economias, com os princípios e as regras que se lhe aplicam por conveniência daqueles que buscam a máxima da eficiência, seja ela na produção ou na rentabilidade dos meios investidos, mais justamente poderá ser apelidado conflito suicida?Não será pela ausência de cumprimento de um conjunto mínimo de regras de regulação social, ambiental, cívica e de direitos humanos por parte de um dos blocos económicos, que as diferenças de competitividade entre as sociedades e as economias ocidentais e do oriente longínquo se fazem sentir neste jogo absolutamente desigual?
Já todos sabemos que nem tudo o que é bom para os grandes interesses económico-financeiros é bom para as economias nacionais ou regionais, que foram ou ainda, aparentemente, são a sede dos mesmos. Tal foi há muito a conclusão tirada pelos EUA, quando um dos seus presidentes afirmou –Não é mais verdade que tudo o que é bom para a General Electric é bom para a América!
É que os interesses passaram a ser exactamente globais! Deixaram de se respeitar ou servir interesses localizados e sobretudo, continuar a assegurar os direitos sociais daqueles que ajudaram a construir esse modelo de mundo desenvolvido.
O velho Ocidente - Europa, velho não pela ancestralidade da sua história, mas precisamente pelos indicadores da sua demografia e pesado fardo social na sua economia, está a braços com um gravíssimo problema de sobrevivência. Não tem havido capacidade, vontade e coragem políitca para proceder às adaptações indispensáveis ao estado social, porque o discurso político não prima pela verdade, mas mais pela conveniência na sedução do eleitorado. Os governos têm vindo a ser cada vez menos capazes condutores e orientadores das suas economias, como, aliás, é fácil comprovar pelos desastrosos resultados a que muitas das economias europeias chegaram.
A ausência de qualidade e de seriedade intelectual dos membros da classe política tem tido tradução no adiamento das medidas de adaptação do modelo de estado social, e tem assentado exclusivamente, na extrapolação mecânica do cenário que lhes é conhecido.
Nada de mais falível hoje, que, pensar que amanhã poderá ser parecido!
Tudo se apresenta como imprevisível, pois as variáveis são totalmente desconhecidas a cada momento!
Só podem e devem ser considerados verdadeiramente Dirigentes, os que têm capacidade de criar e apresentar novas soluções, ainda que muitas das vezes sejam frequentemente, no seu tempo consideradas utópicas, porque exactamente, não são entendidas, dada a sua originalidade, e sobretudo porque não foram experimentadas.
É hoje claro para todos que não existe sustentabilidade para a satisfação dos direitos e regalias sociais dos cidadãos ocidentais!
A dita globalização - comércio livre, que supostamente traria maior racionalidade aos mercados pela maior competitividade da oferta ao submisso consumidor, que acima de tudo é cidadão, agora potencialmente desempregado irreversível, afinal, mais satisfaz os interesses dos produtores.
A alteração do sistema económico e social e de relações internacionais parece demorar, e, eventualmente, só ocorrerá, se for o caso, para além do tempo socialmente aceitável.
Dada a incontestável e irreversível falência financeira do Estado, a manterem-se as inverdades, e a insistência no modelo que não satisfaz, não é de esperar que as repostas do sector público permitam a resolução das graves e crescentes situações de exclusão social das famílias.
A simples manutenção dos níveis de protecção social que vigoraram até ao presente está seriamente ameaçada!
Enquanto outros sinais mais animadores não surjam no horizonte, parece no mínimo sensato concluir que, afinal, só nos restará então como resposta, as acções que estiverem ao alcance e possam resultar da capacidade dos cidadãos, ainda que para o efeito se aconselhe, sempre que possível, a sua necessária convergência e organização.
Sempre assim aconteceu mesmo antes do estado social!
O Estado, pelos vistos, desvia-se frequentemente dos fins para que se criou, especialmente, quando as relações humanas são elemento determinante.
É que sempre foram as famílias, mais ou menos alargadas, na forma de parcerias, congregações profissionais ou religiosas, irmandades, vizinhanças ou outras, isto é, a cidadania na sua esfera de livre e espontânea actuação, que estiveram na primeira e última linha da chamada solidariedade, entreajuda, e por outros de fraternidade.
É o que agora estamos obrigados que aconteça novamente, mas com redobrada intensidade e eficiência.
Estamos todos obrigados a atingir excelência na gestão dos meios que ainda forem possíveis mobilizar, com vista a acautelar a nossa previdência e proteger o infortúnio dos que nos são próximos, porque o sistema para o qual obrigatoriamente contribuímos, já demonstrou há muito a sua aridez afectiva, e, mais recentemente, a sua falência financeira.
Aos cidadãos impõem-se agora desafios muito mais exigentes na gestão dos recursos que lhes sejam confiados, dada a sua escassez por um lado, e o alargamento do universo social a satisfazer, por outro lado.
Óbvio será concluir, que acabados os tempos de “vacas gordas” com o fecho de mais um ciclo de transferências, as do centro europeu, á semelhança de outros ciclos que na história de Portugal aconteceram, como o da pimenta da Índia, do ouro do Brasil, e do café de Angola, já se entendeu que o grau de “solidariedade comunitária europeia” não mais acudirá aos nossos apelos e interesses.
Aos cidadãos que vêm exercendo, de modo próprio, actividades em organizações sem fins lucrativos e de acção social, impõe-se que devam assumir e exigir, sem quaisquer restrições, de todos os demais confrades, o maior rigor e transparência na gestão das suas organizações, a comprovada competência no desempenho da acção social, a demonstração inequívoca de voluntarismo e desinteresse de qualquer alcance material remunerado ainda que não confessado, e finalmente a prática de actos ética e comportamentalmente aceitáveis nos respectivos grupos sociais. Tudo isto sem recurso a práticas de falta de verdade e transparência, porque nos dias de hoje já não existem as costumadas atenuantes derivadas de climas de abastança.
Carlos Vargas



segunda-feira, novembro 21, 2011
Rádio Graciosa