Traduzir

Rádio Graciosa


23 fevereiro 2007

- Há excesso de delegados de informação médica nos Açores.



Nunca a expressão "sete cães a um osso" terá feito tanto sentido. Nos Açores existem, actualmente, cerca de oitenta delegados de informação médica. Se a estes juntarmos os que, regularmente, vêm do Continente em viagens de trabalho à Região e considerarmos que, no arquipélago, há 150 médicos, é fácil perceber o quanto esta actividade está sobrevalorizada e como é difícil nela trabalhar.A delegação de informação médica é um assunto controverso, como o comprovam algumas polémicas surgidas a nível nacional, há não muito tempo, que falavam no aliciamento dos médicos no sentido destes comprarem este ou aquele produto do laboratório x ou y. Como tal, não é fácil traçar um retrato do actual panorama, desta actividade, na Região.Todavia, a nossa reportagem tentou saber um pouco mais sobre a realidade actual. O aumento do número de delegados fica-se a dever, essencialmente, ao facto de alguns laboratórios, principalmente aqueles que estão ligados às marcas representadas por empresas multinacionais, terem optado por possuir delegados em todas as suas linhas, o mesmo será dizer que têm, por exemplo, uma pessoa que trabalha somente com duas especialidades para falar de um só produto. Assim, pode haver quatro ou cinco delegados do mesmo laboratório a concorrer, muitas vezes, contra uma pessoa que trabalha todas as especialidades (linhas).É normal, por vezes, que cheguem a estar num centro de saúde ou numa enfermaria cerca de vinte delegados de informação médica. O resultado é óbvio, dizem os mais velhos: simplesmente não se consegue trabalhar.A juntar a isto, há a registar que os clínicos, devido ao excesso de contactos, estão saturados dos delegados de informação médica - chegam a ter 20 contactos por dia -, vendo-os, em alguns casos, como pessoas não gratas, muito à semelhança do que acontece com os vendedores de livros que andam de porta em porta.No entanto, e face a esta comparação, referem alguns delegados de informação médica, existe uma diferença muito grande, que passa pelo facto dos médicos precisarem de formação - acções estas que lhes são dadas pelos delegados e pelos laboratórios -, além de necessitarem das "guide lines" da Organização Mundial de Saúde, bem como das directrizes europeias e americanas. Refira-se que, ao nível da formação, o Estado não comparticipa qualquer acção deste género, cabendo aos laboratórios fazê-lo. Todavia, dizem os delegados, principalmente os mais antigos, tudo o que é demais não presta. "A pressão é inimiga da perfeição", sublinham os nossos interlocutores, que preferem não se identificar, até porque, destacam, "da forma como as coisas estão, nem nós conseguimos trabalhar, nem os médicos têm descanso". Para combater todas as dificuldades, e sempre na óptica de quem está no mercado há mais tempo, há que utilizar o ascendente adquirido fruto dos contactos regulares, feitos há longos anos, e trabalhar com bom senso no sentido de não pressionar muito, mesmo que para isso seja necessário ter um ou outro dia mau que, depois, será compensado. "É preciso ter a noção de que as pessoas (médicos) podem não ter disponibilidade ou não estarem dispostos a nos receber. Se assim for, mais vale não insistir, embora não seja esta a política de certos laboratórios, já que existem alguns deles que pressionam, sobremaneira, os delegados, no sentido destes apresentarem médias de dez visitas diárias", diz quem está no ramo.

Twitter Facebook Favorites More