Um dos principais problemas que as sociedades contemporâneas globalizadas e climaticamente alteradas enfrentam é o aumento da pressão nos territórios, especialmente nas zonas rurais.
Os resultados das eleições presidenciais portuguesas de 2021 mostraram que as áreas rurais foram das que revelaram maior apoio ao Chega, partido populista de extrema-direita português. Isto sugere a relevância atual de explorar aquilo que será o principal objetivo deste projeto: analisar como é que os meios de comunicação social portugueses estão a comunicar a transição energética e a sua relação com as comunidades e paisagens rurais e com discursos populistas de direita, como relativos a identidades e projetos nacionais; e analisar como isso está a ser apropriado e negociado pelas comunidades rurais, no contexto da sua experiência vivida das transições energéticas renováveis e se contribui para a resistência local a essas transições bem como à inclusão e diversidade sociais nos meios rurais.
Dois estudos foram conduzidos – primeiro, uma análise dos media (jornais nacionais, e jornais regionais e locais, estes últimos com enfoque para os dois estudos de caso descritos abaixo), para examinar como os discursos e comunicação dos media representam as energias renováveis em Portugal e se e como isso está relacionado com discursos sobre questões sociopolíticas associadas ao partido populista de extrema-direita Chega e segundo, um estudo etnográfico, incluindo entrevistas narrativas e grupos de discussão com membros de comunidades e outros atores locais em zonas rurais afetadas pela construção de infraestruturas energéticas renováveis de larga escala. O segundo estudo foi conduzido em dois estudos de caso: parque eólico na Graciosa (Açores), uma ilha localizada no primeiro governo regional português a eleger uma coligação com o Chega em 2020; e comunidades em Castelo de Vide onde parques solares existem e estão previsto, nomeadamente o plano para o maior parque solar em Portugal, e localizadas num dos distritos portugueses (Portalegre) onde houve mais votos para o candidato presidencial do Chega em 2021.
A equipa do projeto incluiu especialistas nas dimensões socioculturais, psicológicas e espaciais das transições energéticas renováveis e do populismo de extrema-direita.
A equipa do JUSTENERGY, liderada pela investigadora Susana Batel, Investigadora (CIS-Iscte), apresentou os resultados no estudo no debate "Discussão de resultados do projeto exploratório FCT JUSTENERGY e sobre a sua relevância no contexto da Graciosa", que se realizou Sábado na Graciosa.
Segundo a investigadora, o projeto pretende promover sociedades ecológica e socialmente mais justas.
O sistema de Produção Híbrido de Energia da Graciólica iniciou a produção de eletricidade e respetivo abastecimento à ilha Graciosa a 21 de agosto de 2019, um projeto inovador a novel mundial, que tem possibilitado que a Graciosa tenha dias em que é completamente abastecida por energia limpa.
Segundo o estudo os Graciosenses estão conscientes da sua importância e até orgulhosos da iniciativa, mas tinham expetativas em ter também benefícios ao nível da redução do custo da eletricidade.
O 'Graciólica' é um projeto inovador, com projeção a nível europeu, que colocou a ilha Graciosa na linha da frente no aproveitamento dos recursos naturais renováveis para a produção de energia, em combinação com o armazenamento, enquanto uma prática pioneira em Regiões Ultraperiféricas.