É sempre revelador quando uma governante profere declarações
genéricas de conteúdo impossível de comprovar e que, em boa verdade, apenas
demonstram a falta de resultados efectivos de um mandato.
É fácil para a Secretária Regional da Solidariedade Social
dizer que temos as melhores infraestruturas sociais do país, pois tal é
impossível de quantificar ou verificar.
Quando ninguém, que se saiba, fez a análise científica de um
facto, pode a governante - que tem sobre os ombros vinte anos de um poder que
dispôs de milhares de milhões de euros, mas que contínua a ter os piores
indicadores sociais do país - falar com opulência da obra feita e estabelecer
comparações estéreis que dizem muito, isso sim, da falta de melhores dados para
apresentar sobre a coesão social da região.
Se um governante se vê bafejado com muito dinheiro, o mérito
de fazer obras será sempre relativo pois, associado a esse eventual mérito,
teria de apresentar resultados que signifiquem uma efectiva melhoria dos
indicadores da sua área de governação.
Nos Açores, apesar dos milhares de milhões de euros levados
à exaustão no discurso oficial, continuam a existir gravíssimos indicadores
sociais que cobrem de vergonha qualquer responsável político que se preze.
Na gravidez na adolescência, no desemprego, no alcoolismo,
no abandono e insucesso escolar, nas altas taxas de incidência de RSI -
indicador de pobreza por excelência - nos baixos rendimentos das famílias, e em
tantos outros indicadores que nos colocam no topo da exclusão social, continuam
a existir discursos oficiais que ignoram toda esta realidade, para louvar obras
de regime que foram realizadas, precisamente, por existirem demasiados
problemas na nossa sociedade desigual.
Ainda recentemente, foi confirmado pelos, esses sim, maiores
entendidos do país na área do social, que a pobreza nos Açores tem os mais
altos índices nacionais. Somos, ainda, uma região marcada por taxas de pobreza
inaceitáveis e que devem merecer toda a atenção, por parte de quem tem o dever
de cumprir promessas com demasiados anos. Não são só promessas de obras e de
dinheiro que correm na azáfama eleitoral, são promessas de tornar os Açores uma
região onde não há lugar à pobreza e à exclusão social.
A pobreza não é um destino, não é uma fatalidade. A exclusão
social não é uma marca registada, mas tornou-se uma verdadeira forma de estar no
poder de quem nos governa há já 20 anos.
Chega quase a ser um vício deste poder, que apenas fala de
como faz obra sem pensar nos que vivem dramas de insuficiência económica, ou
naqueles que perderam o seu trabalho, depois da obra feita.
A Agência Eclessia diz-nos que: "Os últimos dados do
Instituto Nacional de Estatística (INE) indicam que em 2012, 24,4% das crianças
e jovens – um quarto da população com menos de dezoito anos – viviam em
situação de risco de pobreza, superior à taxa de risco de pobreza apurada para
a população portuguesa em geral - 18,7%. Já na taxa de intensidade da pobreza,
há quatro anos, a percentagem de crianças e jovens atingidos era de 33,1%, um
número que também é superior à média da população, de 27,3%, e à média da União
Europeia deste grupo etário, que é de 25,2%."
Já em 2010, ano europeu de combate à pobreza e exclusão
social, o PSD lançava alertas e propunha metodologias para enfrentar o flagelo.
Já então o PS dizia que tudo estava encaminhado e que éramos
"alarmistas" e "demagogos"! Agora Vasco Cordeiro promete
que desta é que vai ser. Enfim, a conversa do costume!