Há situações de que certos políticos abusam que devem
merecer reparo e debate: são a falta de vergonha e a falta de memória!
Começo pela falta de memória que temos de avivar, não vá
alguma "tempestade" apagar e quem teve responsabilidades políticas
nos acontecimentos que marcam o nosso presente apareça como um
inocente"Cordeiro" que anseia pela salvação do seu "rebanho"!
Quem estava no Governo dos Açores quando, em 2003, foi
tomada a decisão de acabar com as quotas leiteiras era o PS e tinha maioria
absoluta. E quem ocupava a pasta da Agricultura no Governo dos Açores quando
essa decisão foi tomada (em 2003) era, nem mais nem menos, Vasco Cordeiro,
actual Presidente de um Governo que detém maioria absoluta no Parlamento
Regional.
Já depois disso, em 2008, quando foi reafirmada a decisão de
acabar com o regime de quotas leiteiras, os Açores continuavam a ter uma maioria
absoluta do PS e quem ocupava a importante pasta da Economia era o mesmo Vasco
Cordeiro.
Também não podemos esquecer que com o ProRural a região
investiu mais de 300 milhões de euros e, sob a batuta do PS, as políticas
agrícolas regionais tinham a oportunidade de preparar a fileira do leite para o
embate do fim das quotas.
Dos três actores desta história (produtores, indústria e
Governo), são os produtores quem sofre as consequências mais severas e quem vê
o seu investimento de muitos anos ser posto em causa pela pouca visão de futuro
da indústria e pela total irresponsabilidade do Governo.
É importante não esquecer que os Açores podiam e deviam ter
tido governantes mais atentos à realidade que já se avizinhava desde 2003 e não
é por ausência de uma oposição reivindicativa que estamos a presenciar a maior
crise de sempre do sector.
Em 2007, antes de se reconfirmar o fim das quotas, já o PSD
Açores alertava para a necessidade de uma devida atenção ao sector do leite dos
Açores no contexto europeu!
Na política regional, já sabemos que os governos
maioritários do PS são useiros e vezeiros a distribuir culpas e, em 2015,
quando se concretizou a decisão do final das quotas, já andava um deputado do
PS Graciosa a dizer que o governo regional tinha feito sempre tudo o que era
desejado pela lavoura, como quem imputava responsabilidades a quem foi vítima
da sua política de caça ao voto sem preparar o caminho para os problemas
vindouros.
Nos Açores, para que não se acabe a memória, lembro que
ouvimos, recorrentes vezes, dizer que o nosso leite é o melhor do mundo, mas é
também o mais mal pago e o que é utilizado para produzir produtos de reduzido
valor acrescentado, e nisto a indústria que, não esqueçamos, recebeu também
milhões para fábricas que elevaram à condição de "sagrado" alguns
políticos na fotografia da inauguração teve pouca visão para conseguir esse
valor acrescentado e agora quem paga a factura são os produtores.
Há menos de um ano, o Governo dizia que estávamos preparados
para o fim das quotas. Na altura já vigorava o embargo Russo aos produtos
lácteos desde 2014, que foi estendido até Agosto de 2016 (já imagino que algum
governo irá dizer que foi importante no fim do embargo que tem prazo marcado).
E é aqui que devo fazer um reparo à falta de vergonha na política dos Açores
por dois motivos: em primeiro porque toda esta resenha tem uma marca: a da
maioria absoluta do PS, e um protagonista: Vasco Cordeiro; os mesmos que agora
apontam culpas ao embargo que se prevê acabar em Agosto e para isso já fazem
notar que os Açores precisam é de uma maioria absoluta do PS! Haja decoro!