A cada novo ano, renovam-se esperanças, desejam-se novos projectos,
programam-se desafios que podem ou não concretizar-se, damos asas ao que a
nossa imaginação nos permite ou, simplesmente, viramos mais uma página de
satisfação por mais um ano que passou!
A cada novo ano, fazem-se,
também, os balanços do passado recente, das oportunidades perdidas e das que
até correram bem, das espectativas que, exactamente nesta altura, a cada ano
passado, temos sobre o futuro que se avizinha com mais esse novo ano que chega.
No plano pessoal, político, social, profissional ou familiar, na
intersecção de todas e cada uma destas vertentes, a nossa avaliação feita no
dealbar de um novo ano tem sempre esta interlocução entre o que foi e o que vai
ser, a que se junta o que devia ter sido e o que podia vir a ser.
No plano político, ao qual nos dedicamos semanalmente neste espaço, o
ano velho e o ano novo são como o governo velho e o governo novo do socialismo
insular açoriano, no final de um depositavam-se muitas esperanças e nova
confiança, mas com o envelhecer do novo veio renovada vontade de que termine
este e outro lhe suceda.
Naquele que é o virar de página do último ano de governo do novo
socialismo com velhos protagonistas, o sentimento que nos assalta é de que este
governo podia ter sido melhor, podia ter feito mais, podia ter fugido de ser
apenas mais uma sequência do que o que o antecedeu, estancando o surgimento dos
vícios do poder único e absoluto conforme o sentem aqueles que o assumiram com
rótulo de “novo”, mas agarrados aos favores que no passado pediram para hoje
serem o que são.
Tal como aquando do “novo ano” clamamos por “vida nova”, também uma
maioria de açorianos achava que a renovada confiança, a renovada esperança, a
renovada ambição do socialismo regional iria trazer um outro rumo à região, se
iria reinventar numa fórmula de sucesso, uma “via açoriana” apropriada pelo
poder único e absoluto do socialismo regional que, pelo menos, trouxesse o
renovado sonho de desenvolvimento económico, social e de coesão que tanto
ambicionam as gentes insulares.
Mas, tal como nem todos os novos anos trazem a concretização do que
apostávamos empreender, também o novo socialismo dos Açores não trouxe aquilo
que muitos açorianos acreditaram e desejaram com a “via” proposta pelo novo
directório do socialismo regional, mas, afinal, agora comandado à distância
pelo passado.
E tal como quando olhamos para a dicotomia entre o ano velho e o ano
novo, também nos Governos dos Açores o sucesso do novo seria fazer esquecer o
velho, mas a omnisciência deste torna o recordar dos seus feitos na
insignificância do seu sucessor.
É como passar o ano novo todo a falar do ano velho, de como as coisas
até tinham tarelo, de como não havia disparates nem dissidências, havia quem
mandasse e quem obedecesse, quem soubesse o seu lugar e quem o soubesse pôr lá,
e concluir que dantes nada disto se passava, dantes? … Dantes é que era.
E quando assim é, quando se passa o tempo novo a lembrar o tempo velho,
é porque verdadeiramente nada de novo se sucedeu ao que já era velho, é porque,
afinal, perante uma nova “via” que uma maioria desejava ver concretizada,
apenas resultou uma grande desilusão e uma renovada vontade de um outro rumo
para o futuro.
Neste novo ano, os Açores precisam como nunca de uma vida nova, de um
novo tempo sem um passado sempre presente a atormentar o desejo de um futuro
melhor.
É tempo de um novo ano. Que suplante o velho e traga uma outra “via”.
Que chegue depressa!