Este é um projeto pioneiro na Região, desenvolvido
no âmbito do já conhecido Plano Integrado de Promoção do Sucesso Escolar, ProSucesso
– Açores pela Educação. Para a implementação deste projeto existe, desde o
início do ano letivo, uma rede de 50 professores, recrutados pelas diferentes
escolas das nove ilhas. Designam-se por Prof. DA, sendo professores
qualificados na resolução de dificuldades de aprendizagem.
Este grupo, do qual faço parte, constrói
e partilha materiais e estratégias, com o intuito de estimular novas práticas
pedagógicas na sala de aula que possam contribuir para a superação de
dificuldades a Matemática. A inspiração provém de numerosos estudos ligados às
Neurociências Cognitivas e de casos de sucesso do ensino da Matemática no Mundo,
como é o caso da Finlândia e de Singapura. Estes casos de sucesso fornecem-nos
ferramentas amplamente testadas no terreno, que permitem encarar o ensino da
Matemática de uma perspetiva diferente.
O grupo de professores DA é orientado
pelo Prof. Doutor Ricardo Cunha Teixeira, docente do Departamento de Matemática
da Universidade dos Açores, em articulação com a Direção de Serviços Pedagógicos
da Direção Regional da Educação.
É certo que a nossa realidade
sociocultural, política e económica é substancialmente diferente daqueles dois
países inspiradores desta nova dinâmica de trabalho na área da Matemática.
Desde já, a cultura de escola existente, o modo como a sociedade aprecia o
ensino, assim como o papel do professor, altamente valorizado constituem,
infelizmente, aspetos macroscópicos – que nos ultrapassam. Então o que nos
resta? Os aspetos microscópios! Ou seja, os pequenos pormenores que fazem toda
a diferença e que podem ser introduzidos na prática diária da sala de aula. E,
neste campo, o método de Singapura é muito profícuo. Não é à toa que este
método tem vindo a ser alvo de adaptação à realidade de vários países, com
destaque para os Estados Unidos da América, o Reino Unido e também Espanha.
Em seguida, destacam-se as principais
linhas orientadoras da ação do prof. DA. O ensino da Matemática no 1.º Ciclo do
Ensino Básico deve pautar-se por uma abordagem CPA (Concreto-Pictórico-Abstrato),
que remonta aos trabalhos do psicólogo norte-americano Jerome Bruner. De acordo
com esta abordagem, deve-se partir sempre do concreto, da manipulação de objetos
e de materiais estruturados; depois, passamos ao pictórico e trabalhamos com
imagens, desenhos e esquemas; por fim, explora-se o abstrato, a utilização de
símbolos para simplificar a escrita dos cálculos matemáticos. É, portanto, todo
um caminho que deve ser percorrido passo a passo.
Outro aspeto importante prende-se com a
promoção da Metacognição. O aluno é levado a pensar sobre o que está a aprender
e, aqui, a aposta na oralidade é fundamental. Esta competência não deve ser
trabalhada intencionalmente e de forma estruturada apenas nas aulas de
Português. Ela é utilizada no sentido de colocarmos os alunos a falar
explicando o seu raciocínio e as suas estratégias de resolução. Aqui, entra uma
outra estratégia desafiadora: trabalhar sob múltiplas perspetivas, diferentes
representações para que todos os alunos possam identificar-se com o modo de
pensar e raciocinar de acordo com as suas capacidades e características. As
crianças aprendem de modos diferentes! É preciso cuidado, pois não devemos
apresentar algo “muito formatado”. A ideia é explorar os temas segundo
diferentes perspetivas que potenciem a aprendizagem de cada um dos alunos da
turma.
Também é fundamental estabelecer conexões
entre os temas matemáticos. Tudo está interligado, logo há que seguir uma
lógica de estimular a exploração das relações entre os conceitos. Para isto, é crucial respeitar a
ordem dos temas a introduzir e a explorar na sala de aula. Um novo conceito
matemático só deve ser introduzido quando os conceitos anteriores, necessários
para a compreensão deste novo conceito, estejam devidamente consolidados. Não
se devem saltar etapas! Daí que, este ano letivo, pais/encarregados de educação,
e até alguns professores titulares de turma, chegaram inicialmente a pensar que
os conteúdos lecionados aos alunos do
1.º ano de escolaridade (ano foco da ação dos Prof. DA no 1.º período do
corrente ano letivo) estavam a seguir um
ritmo demasiado lento, o que podia pôr em causa o cumprimento do programa e das
metas curriculares. A verdade é que os conceitos fundamentais a futuras
aprendizagens devem estar bem consolidados. E isso requer tempo. Em
contrapartida, no momento em que essas futuras aprendizagens estiverem a ser
desenvolvidas, o ritmo de aprendizagem será muito mais célere, pois a criança
já domina as peças chave para essas novas aprendizagens. No global, não se
perde tempo, bem pelo contrário: ganha-se em termos de consolidação das aprendizagens
desenvolvidas.
Este tem sido um grande desafio, pois
coloca em causa práticas “ancestrais” e provoca alguma insegurança, uma vez que
nem sempre a ordem do manual é a mais adequada; há que ajustar a ordenação das
páginas do manual a aprendizagens mais eficazes, sendo mesmo necessário
complementar o manual com atividades enriquecedoras e potenciadoras de
aprendizagens com significado. É importante também realçar que estamos todos a
caminhar numa mesma direção. Toda a Região está a seguir estas orientações.
Este é um trabalho de corresponsabilidades (professores, alunos, encarregados
de educação, Universidade dos Açores e Direção Regional da Educação). Neste
momento, nas diferentes escolas da Região, os 50 Prof. DA estão a trabalhar até
à exaustão os conceitos básicos sob múltiplas perspetivas. É importante manter
um rumo firme, de forma a alterarmos nas nossas práticas os tais “pequenos
pormenores que fazem toda a diferença”. Uma coisa é certa: se nada alterarmos
nas nossas práticas diárias, os resultados a Matemática não vão sofrer
alterações e não alcançaremos o tão almejado sucesso na Matemática.
Clarificando um pouco mais o papel do
Prof. DA, este é visto como um gestor na superação de dificuldades de
aprendizagem. A sua ação no terreno, uma vez que não tem turma, é a de intervir
nas diferentes turmas desenvolvendo trabalhos específicos em grande e/ou
pequeno grupo de alunos e também com alunos individualmente. Todos as crianças
têm direito a beneficiar deste apoio porque, a qualquer momento do percurso
escolar, é normal qualquer aluno precisar de ajuda na superação de alguma
dificuldade, nem que seja pontual. Anormal é nunca se precisar de ajuda.
Outra função do Prof. DA é reunir, de
forma regular, com os professores titulares de turma e professores de apoio
educativo (caso os haja!) para, identificando as crianças com dificuldades e as
suas lacunas, sugerir e estabelecer estratégias de intervenção.
Este projeto, tal como o nome indica,
terá a sua implementação também “passo a passo”, ano a ano de escolaridade. Por
isso, neste ano lectivo de 2015/2016 fixamo-nos essencialmente no 1.º e 2.º
anos de escolaridade. Um dos nossos objetivos visa construir um instrumento de
trabalho, útil para os professores e alunos – uma brochura com as atividades e
exercícios promotores de sucesso deste ano. Esta brochura, cuidadosamente
estruturada, deverá ser utilizada integralmente nos próximos anos letivos.
Pretende-se seguir esta metodologia, pelo menos, no próximo triénio. Ou seja,
em 2016/2017, daremos especial atenção à brochura do 2.º ano de escolaridade e
assim sucessivamente.
Texto escrito pela profª DA, Regina Silva,
e revisto pelo formador prof. Dr. Ricardo C. Teixeira