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Rádio Graciosa


05 dezembro 2015

“MATEMÁTICA PASSO A PASSO” no 1.º Ciclo do Ensino Básico da Graciosa, pela professora Regina Silva

Este é um projeto pioneiro na Região, desenvolvido no âmbito do já conhecido Plano Integrado de Promoção do Sucesso Escolar, ProSucesso – Açores pela Educação. Para a implementação deste projeto existe, desde o início do ano letivo, uma rede de 50 professores, recrutados pelas diferentes escolas das nove ilhas. Designam-se por Prof. DA, sendo professores qualificados na resolução de dificuldades de aprendizagem.
Este grupo, do qual faço parte, constrói e partilha materiais e estratégias, com o intuito de estimular novas práticas pedagógicas na sala de aula que possam contribuir para a superação de dificuldades a Matemática. A inspiração provém de numerosos estudos ligados às Neurociências Cognitivas e de casos de sucesso do ensino da Matemática no Mundo, como é o caso da Finlândia e de Singapura. Estes casos de sucesso fornecem-nos ferramentas amplamente testadas no terreno, que permitem encarar o ensino da Matemática de uma perspetiva diferente.
O grupo de professores DA é orientado pelo Prof. Doutor Ricardo Cunha Teixeira, docente do Departamento de Matemática da Universidade dos Açores, em articulação com a Direção de Serviços Pedagógicos da Direção Regional da Educação.
É certo que a nossa realidade sociocultural, política e económica é substancialmente diferente daqueles dois países inspiradores desta nova dinâmica de trabalho na área da Matemática. Desde já, a cultura de escola existente, o modo como a sociedade aprecia o ensino, assim como o papel do professor, altamente valorizado constituem, infelizmente, aspetos macroscópicos – que nos ultrapassam. Então o que nos resta? Os aspetos microscópios! Ou seja, os pequenos pormenores que fazem toda a diferença e que podem ser introduzidos na prática diária da sala de aula. E, neste campo, o método de Singapura é muito profícuo. Não é à toa que este método tem vindo a ser alvo de adaptação à realidade de vários países, com destaque para os Estados Unidos da América, o Reino Unido e também Espanha.
Em seguida, destacam-se as principais linhas orientadoras da ação do prof. DA. O ensino da Matemática no 1.º Ciclo do Ensino Básico deve pautar-se por uma abordagem CPA (Concreto-Pictórico-Abstrato), que remonta aos trabalhos do psicólogo norte-americano Jerome Bruner. De acordo com esta abordagem, deve-se partir sempre do concreto, da manipulação de objetos e de materiais estruturados; depois, passamos ao pictórico e trabalhamos com imagens, desenhos e esquemas; por fim, explora-se o abstrato, a utilização de símbolos para simplificar a escrita dos cálculos matemáticos. É, portanto, todo um caminho que deve ser percorrido passo a passo.

Fotografias sugestivas do trabalho desenvolvido nas 4 turmas de 1.º ano da Graciosa. Repare-se na aplicação da abordagem CPA, referida anteriormente.



Outro aspeto importante prende-se com a promoção da Metacognição. O aluno é levado a pensar sobre o que está a aprender e, aqui, a aposta na oralidade é fundamental. Esta competência não deve ser trabalhada intencionalmente e de forma estruturada apenas nas aulas de Português. Ela é utilizada no sentido de colocarmos os alunos a falar explicando o seu raciocínio e as suas estratégias de resolução. Aqui, entra uma outra estratégia desafiadora: trabalhar sob múltiplas perspetivas, diferentes representações para que todos os alunos possam identificar-se com o modo de pensar e raciocinar de acordo com as suas capacidades e características. As crianças aprendem de modos diferentes! É preciso cuidado, pois não devemos apresentar algo “muito formatado”. A ideia é explorar os temas segundo diferentes perspetivas que potenciem a aprendizagem de cada um dos alunos da turma.
Também é fundamental estabelecer conexões entre os temas matemáticos. Tudo está interligado, logo há que seguir uma lógica de estimular a exploração das relações entre os  conceitos. Para isto, é crucial respeitar a ordem dos temas a introduzir e a explorar na sala de aula. Um novo conceito matemático só deve ser introduzido quando os conceitos anteriores, necessários para a compreensão deste novo conceito, estejam devidamente consolidados. Não se devem saltar etapas! Daí que, este ano letivo, pais/encarregados de educação, e até alguns professores titulares de turma, chegaram inicialmente a pensar que os conteúdos lecionados  aos alunos do 1.º ano de escolaridade (ano foco da ação dos Prof. DA no 1.º período do corrente ano letivo)  estavam a seguir um ritmo demasiado lento, o que podia pôr em causa o cumprimento do programa e das metas curriculares. A verdade é que os conceitos fundamentais a futuras aprendizagens devem estar bem consolidados. E isso requer tempo. Em contrapartida, no momento em que essas futuras aprendizagens estiverem a ser desenvolvidas, o ritmo de aprendizagem será muito mais célere, pois a criança já domina as peças chave para essas novas aprendizagens. No global, não se perde tempo, bem pelo contrário: ganha-se em termos de consolidação das aprendizagens desenvolvidas.
Este tem sido um grande desafio, pois coloca em causa práticas “ancestrais” e provoca alguma insegurança, uma vez que nem sempre a ordem do manual é a mais adequada; há que ajustar a ordenação das páginas do manual a aprendizagens mais eficazes, sendo mesmo necessário complementar o manual com atividades enriquecedoras e potenciadoras de aprendizagens com significado. É importante também realçar que estamos todos a caminhar numa mesma direção. Toda a Região está a seguir estas orientações. Este é um trabalho de corresponsabilidades (professores, alunos, encarregados de educação, Universidade dos Açores e Direção Regional da Educação). Neste momento, nas diferentes escolas da Região, os 50 Prof. DA estão a trabalhar até à exaustão os conceitos básicos sob múltiplas perspetivas. É importante manter um rumo firme, de forma a alterarmos nas nossas práticas os tais “pequenos pormenores que fazem toda a diferença”. Uma coisa é certa: se nada alterarmos nas nossas práticas diárias, os resultados a Matemática não vão sofrer alterações e não alcançaremos o tão almejado sucesso na Matemática.
Clarificando um pouco mais o papel do Prof. DA, este é visto como um gestor na superação de dificuldades de aprendizagem. A sua ação no terreno, uma vez que não tem turma, é a de intervir nas diferentes turmas desenvolvendo trabalhos específicos em grande e/ou pequeno grupo de alunos e também com alunos individualmente. Todos as crianças têm direito a beneficiar deste apoio porque, a qualquer momento do percurso escolar, é normal qualquer aluno precisar de ajuda na superação de alguma dificuldade, nem que seja pontual. Anormal é nunca se precisar de ajuda.
Outra função do Prof. DA é reunir, de forma regular, com os professores titulares de turma e professores de apoio educativo (caso os haja!) para, identificando as crianças com dificuldades e as suas lacunas, sugerir e estabelecer estratégias de intervenção.
Este projeto, tal como o nome indica, terá a sua implementação também “passo a passo”, ano a ano de escolaridade. Por isso, neste ano lectivo de 2015/2016 fixamo-nos essencialmente no 1.º e 2.º anos de escolaridade. Um dos nossos objetivos visa construir um instrumento de trabalho, útil para os professores e alunos – uma brochura com as atividades e exercícios promotores de sucesso deste ano. Esta brochura, cuidadosamente estruturada, deverá ser utilizada integralmente nos próximos anos letivos. Pretende-se seguir esta metodologia, pelo menos, no próximo triénio. Ou seja, em 2016/2017, daremos especial atenção à brochura do 2.º ano de escolaridade e assim sucessivamente.

Texto escrito pela profª DA, Regina Silva, e revisto pelo formador prof. Dr. Ricardo C. Teixeira

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