O diferencial e o fiscal
A visita de Passos Coelho aos Açores trouxe muita discussão
e entendimentos diversos sobre se foi produtiva e frutuosa, sobre se foi vazia
e sem novidade e, ainda houve quem conseguisse que a visita tivesse um sentido
quando o Primeiro Ministro estava em solo açoriano e outro mal ele abandonou o
espaço aéreo regional.
Na verdade, esta visita fica marcada por duas visões
distintas. Em primeiro aqueles que querem mesmo pensar os Açores enquanto
região de progresso, consubstanciado na melhoria do nível de vida das pessoas,
e em segundo aqueles que pensam os Açores enquanto região onde progridem,
aumentando o seu nível de vida, mas sem retirarem de cena os piores indicadores
sociais do país.
As duas questões centrais da deslocação de Passos aos Açores
foram, na minha opinião: a resolução da questão das alterações ao modelo de
transporte aéreo que, afinal, estava à espera que o Governo Regional agisse ao
invés de culpar outros pelo atraso (alguém ouviu o PS voltar a dizer que o
Conselho de Ministros nunca mais fazia o seu trabalho?), e a questão do
anunciado aumento do diferencial fiscal, já antes introduzido na agenda
política da deslocação do Primeiro Ministro pelo líder do PSD Açores.
Se na questão do transporte aéreo se desbloqueou a situação
e no próximo verão IATA já se poderá assistir a uma mudança de paradigma nas
viagens aéreas com os Açores, na questão do diferencial fiscal Passos Coelho
trouxe a melhor notícia dos últimos anos e que se traduz numa baixa de
impostos, tão insistentemente pedida por todos os quadrantes da sociedade,
desde a economia à cultura, da indústria aos serviços, da agricultura e pescas
aos transportes e, em geral, às famílias dos Açores.
Voltar uma família, nos Açores, a pagar menos 30% de IRS do
que no continente, ou o IVA ser 30% mais baixo na região é a melhor notícia que
os Açores podiam receber. Mas, para espanto meu, ninguém, no governo dos
Açores, festejou esta realidade.
Se por um lado compreendo o embaraço de o Governo dos Açores
nunca se ter chegado à frente nesta questão, tendo sido Duarte Freitas quem a
colocou na agenda do país, não consigo atingir a razão para se pensar apenas na
geometria fiscal de quem beneficia com a austeridade quando nos é possibilitado
aliviarmos substancialmente os sacrifícios que tanto custam aos açorianos.
É como se, de repente, o anafado fiscal que vem em cobrança
dos impostos do seu senhor se revoltasse por ter licença de aliviar a carga de
um povo que alimenta a sua gula.
Já não percebo muito bem é o porquê de o Presidente do
Governo dos Açores, que até mostrava bem a sua satisfação por o Primeiro
Ministro ter trazido mais do que alguma vez esperou, ter mudado de opinião
assim que o tal fiscal lhe deu nota de que devia ser menos institucional e
sempre, sempre eleitoral.
A visita de Passos aos Açores mostrou bem que existe mesmo
um "diferencial" na política açoriana. Uma forma de exercer cargos
públicos em que primeiro estão sempre os interesses das famílias e dos
açorianos, uma forma bem diferente que foi dada por Duarte Freitas e que por
essa diferença marcou pela positiva e foi o verdadeiro "diferencial".
Já o "fiscal", esse, já sabíamos que existia bem camuflado na
penumbra da satisfação das suas necessidades eleitorais, agora revelou-se um
pouco melhor.