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Rádio Graciosa


28 setembro 2012

Notável desta semana é Ulisses Tomás de Simas


Ulisses Tomás de Simas nasceu a 22 de Julho de 1927 na Freguesia de Guadalupe, Concelho de Santa Cruz da Graciosa.

Filho de João Tomás Bettencourt e de Rosa Nazaré Cunha Simas Bettencourt, Ulisses Simas era um dos três filhos do casal, que eram empresários. Tinham no Guadalupe um estabelecimento comercial, conhecido pela "Loja do SR. Joãozinho" e esperavam que um dos filhos seguisse com o negócio, o que não aconteceu, pois quiseram estudar.
Ulisses Simas concluiu na Graciosa o ensino primário e seguiu depois para a Terceira para prosseguir o seu sonho "ir para a Terceira estudar". Estudou no Liceu de Angra enquanto ficava em casa de uma tia. Foi no Porto que tirou o curso de Engenheiro Técnico, conseguindo realizar o seu sonho de se licenciar na área que gostava.
Concluída a formação volta à Terceira onde ingressa a Junta Geral de Obras Públicas, onde veio a trabalhar durante 36 anos.
Foi na Terceira que viveu a maior parte da sua vida, ilha que junto com a Graciosa dividiam o seu coração e assim foi na ilha Terceira que casou e teve dois filhos, no entanto as férias eram sempre passadas na Graciosa, junto ao mar numa casa da família no Carapacho.
Durante a sua actividade profissional deslocava-se muitas vezes à Graciosa e a São Jorge em serviço.

Dos trabalhos que executou destaca-se, a pedido da Câmara Municipal de Santa Cruz da Graciosa, a elaboração da planta topográfica da vila de Santa Cruz e também de toda a ilha.
Um trabalho que durou cerca de um ano a realizar, pois Ulisses Simas percorria a ilha a pé, com equipamentos velhos e contou com a ajuda dos trabalhadores das obras públicas para medição de pontos geodésicos.

No sismo de 1980 na Terceira, verificou-se que todos os prédios em que houve a sua intervenção, não ocorreram derrocadas.
As obras que dirigia tinham que ser bem executadas, efectuava com rigor os cálculos de betão armado, o que na época nem sempre foi bem aceite, pois acarretava mais custos para os proprietários, mas que acabou por mostrar resultados quando se verificou o grande terramoto de 80.
Ainda na ilha Terceira estava muito ligado às obras de estradas, mas também da Estalagem da Serreta, da Casa de Saúde de São Rafael e de variadíssimos prédios por toda a ilha, porque trabalhava também com gabinetes de arquitectura da altura, ficando a seu cargo os cálculos do betão armado e fiscalização das obras.
Após o sismo de 1980 o seu trabalho passou a ser muito reconhecido na Terceira, ilha onde também trabalhou na construção do Projeto Inicial do Clube de Golfe.
Ao longo da sua passagem pelas obras públicas também trabalhou em São Jorge, destacando-se as obras do Tribunal e da GNR.
Foi um funcionário público exemplar, nunca cobrava horas extra e nem uma única vez utilizou os carros oficiais para fins pessoais, tendo chegado pelo contrário a utilizar a sua viatura sempre que necessitava ir a algum sítio, no cumprimento a sua profissão.
Um homem que sempre defendeu os valores em que acreditava e que pôs a sua inteligência, dedicação e audácia ao serviço das obras públicas e consequentemente dos cidadãos das ilhas em que trabalhou.

Na Graciosa foi ele que projectou, na altura com Fernando Mesquita, a piscina para crianças no Carapacho, com o cuidado de haver entrada e saída de água.
As estradas da Graciosa tiveram a sua intervenção durante muitos anos, mais concretamente na correcção
Sempre adorou a sua profissão e diz que se voltasse atrás voltava a seguir o mesmo caminho.
No seu percurso profissional foi ainda fiscal e avaliador da Caixa Geral de Depósitos.
Sempre que lhe chegava qualquer pedido para ajudar em alguma coisa na Graciosa, estava sempre pronto para vir cá.

Reformou-se das obras públicas depois da morte da filha em 1992, e fixa-se definitivamente na Graciosa com mulher e filho no ano de 1995. Este afastamento das obras públicas teve também a ver com a sua consternação de os partidos e políticos começarem a querer mandar nos técnicos. Segundo a sua opinião o sector das obras públicas deveria ser alheio às políticas, pois tem a ver com a segurança das pessoas.
Ao sair da sua profissão de mais de 30 anos foi homenageado e recebeu uma salva de prata, segundo ele sentia-se muito bem nas obras públicas pois eram como uma segunda família.
Na altura foi convidado por todos os partidos políticos para concorrer à Câmara Municipal de Santa Cruz da Graciosa, convites que não aceitou uma vez que não estava psicologicamente preparado para esse desafio.

Ulisses Simas herdou da madrinha de baptizado uma casa no Largo Barão de Guadalupe, no Centro de Santa Cruz, onde abriu a 1 de Julho de 1981 a primeira Residencial da Ilha. A Residencial Santa Cruz começou com 9 quartos, mas mais tarde após aquisição de um edifício ao lado foi ampliada para os actuais 18 quartos.
Esta ideia surgiu porque como Ulisses Simas não morava na Ilha, através desta forma dava uso à casa, que para funcionar durante esse tempo, teve à sua frente administradores. Havia também a necessidade na ilha deste tipo de infra-estrutura, que durante anos foi a única na ilha e albergou desde governantes a juízes e turistas. Todas as obras da residencial foram projetadas e executadas sob a sua orientação.
Ulisses Simas tinha um grande carinho pelas tradicionais festas de Verão da Graciosa e apoiava as comissões de algumas dessas festas com estadia grátis para os artistas. Também apoiou o desporto através de patrocínios comerciais na Rádio Graciosa.
O património arquitetónico e cultural, tinha para ele muito valor, e foi por isso que ajudou a que se concretizasse o arranjo do órgão de tubos da Igreja de Guadalupe.

Como hobbies, Ulisses Simas sempre escolheu a natureza, adora o mar e durante o Verão era um grande adepto dos banhos de mar.
Na Ilha Terceira pertenceu aos Montanheiros, juntava-se ao grupo aos fins de semanas e feriados e participou na obra de entrada do Algar do Carvão, realizada por este grupo.
No ramo associativo destaca-se ter pertencido à direcção dos Bombeiros de Angra, enquanto tesoureiro e é sócio do Santa Cruz Sport Club.

Ulisses Tomás de Simas, ou engenheiro Ulisses como ainda hoje é conhecido, conta agora com 85 anos e desde Julho de 2009 que está acamado vítima de um AVC.

Um homem dedicado às obras, construção e valorização do património das ilhas, que nunca esqueceu a ilha Graciosa e por isso foi cá que criou o único negócio que tem até hoje.

Um Graciosense notável a quem a Rádio Graciosa presta homenagem.



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