Ulisses
Tomás de Simas nasceu a 22 de Julho de 1927 na Freguesia de
Guadalupe, Concelho de Santa Cruz da Graciosa.
Filho de João Tomás Bettencourt e de Rosa Nazaré Cunha Simas Bettencourt, Ulisses Simas era um dos três filhos do casal, que eram empresários. Tinham no Guadalupe um estabelecimento comercial, conhecido pela "Loja do SR. Joãozinho" e esperavam que um dos filhos seguisse com o negócio, o que não aconteceu, pois quiseram estudar.
Ulisses Simas concluiu na Graciosa o ensino primário e seguiu depois para a Terceira para prosseguir o seu sonho "ir para a Terceira estudar". Estudou no Liceu de Angra enquanto ficava em casa de uma tia. Foi no Porto que tirou o curso de Engenheiro Técnico, conseguindo realizar o seu sonho de se licenciar na área que gostava.
Concluída a formação volta à Terceira onde ingressa a Junta Geral de Obras Públicas, onde veio a trabalhar durante 36 anos.
Foi
na Terceira que viveu a maior parte da sua vida, ilha que junto com a
Graciosa dividiam o seu coração e assim foi na ilha Terceira que
casou e teve dois filhos, no entanto as férias eram sempre passadas
na Graciosa, junto ao mar numa casa da família no Carapacho.
Durante a sua actividade profissional deslocava-se muitas vezes à Graciosa e a São Jorge em serviço.
Durante a sua actividade profissional deslocava-se muitas vezes à Graciosa e a São Jorge em serviço.
Dos trabalhos que executou destaca-se, a pedido da Câmara Municipal de Santa Cruz da Graciosa, a elaboração da planta topográfica da vila de Santa Cruz e também de toda a ilha.
Um
trabalho que durou cerca de um ano a realizar, pois Ulisses Simas
percorria a ilha a pé, com equipamentos velhos e contou com a ajuda
dos trabalhadores das obras públicas para medição de pontos
geodésicos.
No sismo de 1980 na Terceira, verificou-se que todos os prédios em que houve a sua intervenção, não ocorreram derrocadas.
As
obras que dirigia tinham que ser bem executadas, efectuava com rigor
os cálculos de betão armado, o que na época nem sempre foi bem
aceite, pois acarretava mais custos para os proprietários, mas que
acabou por mostrar resultados quando se verificou o grande terramoto
de 80.
Ainda
na ilha Terceira estava muito ligado às obras de estradas, mas
também da Estalagem da Serreta, da Casa de Saúde de São Rafael e
de variadíssimos prédios por toda a ilha, porque trabalhava também
com gabinetes de arquitectura da altura, ficando a seu cargo os
cálculos do betão armado e fiscalização das obras.
Após
o sismo de 1980 o seu trabalho passou a ser muito reconhecido na
Terceira, ilha onde também trabalhou na construção do Projeto
Inicial do Clube de Golfe.
Ao
longo da sua passagem pelas obras públicas também trabalhou em São
Jorge, destacando-se as obras do Tribunal e da GNR.
Foi
um funcionário público exemplar, nunca cobrava horas extra e nem
uma única vez utilizou os carros oficiais para fins pessoais, tendo
chegado pelo contrário a utilizar a sua viatura sempre que
necessitava ir a algum sítio, no cumprimento a sua profissão.
Um
homem que sempre defendeu os valores em que acreditava e que pôs a
sua inteligência, dedicação e audácia ao serviço das obras
públicas e consequentemente dos cidadãos das ilhas em que trabalhou.
Na
Graciosa foi ele que projectou, na altura com Fernando Mesquita, a
piscina para crianças no Carapacho, com o cuidado de haver entrada e
saída de água.
As
estradas da Graciosa tiveram a sua intervenção durante muitos anos,
mais concretamente na correcção
Sempre
adorou a sua profissão e diz que se voltasse atrás voltava a seguir
o mesmo caminho.
No
seu percurso profissional foi ainda fiscal e avaliador da Caixa Geral
de Depósitos.
Sempre
que lhe chegava qualquer pedido para ajudar em alguma coisa na
Graciosa, estava sempre pronto para vir cá.
Reformou-se
das obras públicas depois da morte da filha em 1992, e fixa-se
definitivamente na Graciosa com mulher e filho no ano de 1995. Este
afastamento das obras públicas teve também a ver com a sua
consternação de os partidos e políticos começarem a querer mandar
nos técnicos. Segundo a sua opinião o sector das obras públicas
deveria ser alheio às políticas, pois tem a ver com a segurança
das pessoas.
Ao
sair da sua profissão de mais de 30 anos foi homenageado e recebeu
uma salva de prata, segundo ele sentia-se muito bem nas obras
públicas pois eram como uma segunda família.
Na
altura foi convidado por todos os partidos políticos para concorrer
à Câmara Municipal de Santa Cruz da Graciosa, convites que não
aceitou uma vez que não estava psicologicamente preparado para esse
desafio.
Ulisses
Simas herdou da madrinha de baptizado uma casa no Largo Barão de
Guadalupe, no Centro de Santa Cruz, onde abriu a 1 de Julho de 1981 a primeira Residencial da Ilha. A Residencial Santa Cruz começou com 9
quartos, mas mais tarde após aquisição de um edifício ao lado foi
ampliada para os actuais 18 quartos.
Esta
ideia surgiu porque como Ulisses Simas não morava na Ilha, através
desta forma dava uso à casa, que para funcionar durante esse tempo,
teve à sua frente administradores. Havia também a necessidade na
ilha deste tipo de infra-estrutura, que durante anos foi a única na
ilha e albergou desde governantes a juízes e turistas. Todas as
obras da residencial foram projetadas e executadas sob a sua
orientação.
Ulisses
Simas tinha um grande carinho pelas tradicionais festas de Verão da
Graciosa e apoiava as comissões de algumas dessas festas com estadia
grátis para os artistas. Também apoiou o desporto através de
patrocínios comerciais na Rádio Graciosa.
O
património arquitetónico e cultural, tinha para ele muito valor, e
foi por isso que ajudou a que se concretizasse o arranjo do órgão
de tubos da Igreja de Guadalupe.
Como
hobbies, Ulisses Simas sempre escolheu a natureza, adora o mar e
durante o Verão era um grande adepto dos banhos de mar.
Na Ilha Terceira pertenceu aos Montanheiros, juntava-se ao grupo aos
fins de semanas e feriados e participou na obra de entrada do Algar
do Carvão, realizada por este grupo.
No
ramo associativo destaca-se ter pertencido à direcção dos
Bombeiros de Angra, enquanto tesoureiro e é sócio do Santa Cruz
Sport Club.
Ulisses
Tomás de Simas, ou engenheiro Ulisses como ainda hoje é conhecido,
conta agora com 85 anos e desde Julho de 2009 que está acamado
vítima de um AVC.
Um
homem dedicado às obras, construção e valorização do património
das ilhas, que nunca esqueceu a ilha Graciosa e por isso foi cá que
criou o único negócio que tem até hoje.
Um
Graciosense notável a quem a Rádio Graciosa presta homenagem.