A administração dos
Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) já formalizou, junto da
Atlânticoline, a proposta para cedência temporária do ferryboat
"Atlântida" aos Açores por valores inferiores ao concurso
internacional para o fretamento de dois navios entretanto aberto.
Através de uma carta assinada pela
administração dos ENVC, esta proposta é apresentada pelo construtor naval,
público, como "uma possibilidade concreta de negócio".
"No interesse das nossas
empresas e, talvez até, no interesse público nacional", lê-se no
documento, com data de 21 de agosto e ao qual a agência Lusa teve hoje acesso.
A 6 de agosto, a Atlânticoline -
empresa pública dos Açores responsável pelas ligações marítimas inter-ilhas -
lançou um concurso público internacional, de novo para o fretamento de dois
navios para transporte de passageiros e viaturas, para as próximas operações,
2013 e 2014, com opção de prorrogação para 2015, por 16,4 milhões de euros.
A construção do ferryboat
"Atlântida" nos ENVC, por 50 milhões de euros, foi concluída em 2009
e apesar da rescisão do contrato, por decisão do Governo Regional dos Açores, a
Empordef, holding pública que tutela as indústrias de Defesa, sempre admitiu
que o destino do navio deveria ser aquele arquipélago.
Na proposta enviada esta semana ao
presidente do conselho de administração da Atlânticoline, Carlos Reis, os ENVC
justificam esta possibilidade de cedência com "as excelentes
características" do ferry para aquele serviço, até "porque para ele
foi construído".
"Como por exemplo a sua
agilidade de acostagem nos diferentes tipos de cais existentes nas ilhas, com
significativos economias de tempo e combustível nas travessias",
acrescenta o documento, propondo uma "negociação em novos termos" e
"a bem da economia nacional, por um preço global certamente inferior ao do
afretamento" do concurso internacional aberto.
Diz ainda a carta que o navio
"está financiado por uma instituição financeira" pelo que, a
concretizar-se este negócio, seria necessário "avaliar conjuntamente as modalidades
que poderiam revestir esta transação", nomeadamente com uma proposta de
"conversão da referida dívida numa nova modalidade de uso e
afetação".
Recorde-se que após rescindir o
contrato com os ENVC, alegando a diferença de um nó na velocidade máxima do
ferryboat, a Atlânticoline gastou 21 milhões de euros no fretamento de dois
navios ao armador grego Hellenic Seaways para as ligações sazonais inter-ilhas,
entre 2010 e 2012.
Há um ano atracado na Base Naval do
Alfeite, aquele ferry tem capacidade para 750 passageiros e 140 viaturas e uma
velocidade máxima de 16 nós.
Já o concurso agora aberto
determina que um dos navios deve ter uma velocidade mínima de 28 nós, enquanto
a do outro navio deve ser de 19 nós. A lotação mínima exigida é de 600
passageiros e 120 viaturas.
O presidente da Empordef, Vicente
Ferreira, já admitiu que os dois navios encomendados e rejeitados pelos Açores
- além do "Atlântida, o "Anticiclone" não passou do início de
construção - estão avaliados no total em 71 milhões de euros e que a não
concretização deste negócio é grandemente responsável pela "ruína"
dos ENVC e eventualmente, a prazo, da própria "holding" de indústrias
de defesa do Estado.
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