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Rádio Graciosa


06 abril 2012

Notável desta semana é Joaquim Costa





Falar do Joaquim Costa é abrir uma janela e ver entrar um enorme arco iris.
É sentir uma realidade colorida, com muitos tons que não se podem palpar. É uma fantasia. E no entanto olha-se com encantamento.


Vou abrir uma dessas portas, aquela mesma que muitas vezes abriu o nosso Joaquim de que hoje aqui se faz lembrança. Abrir essa porta é entrar na intimidade da casa da minha avó Cidália, e entrar nela é sentir o estalar da lenha no forno, o cheiro da erva- doce que cobria a massa sovada, o perfume dos junquilhos do altar do Menino Jesus, é ouvir o miar dos gatos que saltam das cadeiras da cozinha, é escutar o canto do periquito e do canário da terra, de penas azuis e verdes. Sempre imaginei que na gaiola eram felizes aqueles pássaros, e o Joaquim afinava muito o assobio com eles, que lhe respondiam no tom certo e com vivaz alegria.


Meu nome é Joaquim Costa, apregoava ele, quando se anunciava a cantar. Que foi com a voz que ele se distinguiu, uma voz clara e potente, aquele que também se dava por, Joaquim dos Fados.


Uma das suas grandes paixões era cantar e muitas letras arquivou ele na sua memória, outras tantas criou, fruto das suas reflexões ou dos improvisos.
De seu nome Joaquim Machado da Costa, nasceu na freguesia das Fontinhas na Praia da Vitória, ia o mês de Fevereiro alto, no ano em que estalou a primeira guerra mundial. A 20 de Fevereiro de 1914, tinham à data do seu nascimento, os pais, 49 e 45 anos, e pode imaginar-se que o regaço da mãe já teria suportado o peso de outras maternidades e mesmo netos. Era uma família grande, ele contava, que depois se mudou para Angra, para o bairro do Corpo Santo, e como descobriu os seus dotes de cantor, nem eu sei.


Sei que ele veio cantar à Graciosa entre 1943 ou 1944, com os cantadores “estrelas” do momento da Terceira. A Trulu e o Gaitada eram os artistas que abrilhantavam todas as festas de ocasião.



E ele cantou e encantou.


O Joaquim ficou cá com o seu violão, casou-se com a D.Cidália e os dois cumpriram a vida entre fantasias, completando-se ou trilhando as rotas que puderam fazer.

Os tempos não eram propícios ao culto das artes e da música. E esta ilha não teve tamanho nem dimensão para abrigar o virtuosismo da voz que coube no peito do Joaquim. Ele foi sempre uma figura popular, mas extravagante, invulgar, com uma energia e gosto a que se dava baixo valor.


Apesar disso fez muito à escala da época. Participou em diversas festividades, foi cantar às comunidades da diáspora americana, gravou diversas fitas e bobines, perdidas entre o Rádio Clube de Angra ou na mão de privados.



3 discos de vinil foram a sua coroa de glória.



Mas tinha outras ambições o Joaquim Costa e nessa medida ele teve o seu toque de tragédia pessoal, pois sei que nunca se realizou e que se deixou vencer por uma esclerose que lhe abafou o sentido que mais gostava, o ouvido. Caiu-lhe um pano de tristeza no fim da vida e partiu gasto, amargurado e vencido, com 72 anos de idade.

Este texto foi adaptado de um trabalho que foi apresentado pela Dra Mercês Coelho no CCG, sobre o Joaquim Costa.


Mais um Notável que a Rádio Graciosa Presta aqui a sua devida homenagem.




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