Maria Leónia
Fagundes Pereira nasceu a 18 de Outubro de
1934 na Fajã Grande das Flores. Passou a sua infância e fez a escola primária, nas Flores, sendo na
altura simplesmente conhecida como a “Leónia do Senhor Mancebo”. Era uma mulher
com uma ternura contagiante e uma bondade desmedida.
“Leónia do Senhor Mancebo” foi das primeiras
jovens que, na década de 50 teve a ousadia, coragem e também, a possibilidade
de, ao terminar a 4ª classe, “abandonar” a família, a freguesia e a ilha e ir
estudar para o Faial, dado que nas Flores o ensino existente se limitava, na
altura, apenas aos quatro anos do ensino primário. Além disso, a Leónia, que ia
todos os anos, nas férias do Verão à Fajã Grande, apesar de “estudante”, coisa
rara na freguesia na altura, revelou sempre, para com todos os seus
conterrâneos, uma simplicidade incondicional, uma alegria contagiante, uma
humildade assumida, uma cordialidade permanente e um salutar convívio, não
desdenhando de ninguém, nem ostentando uma superioridade que o estatuto de estudante
até lhe concederia, mas de que ela nunca fez jus. Por isso é que sempre toda a
freguesia a tratou simplesmente pela “Leónia do Senhor Mancebo”.
Depois
de completar os estudos primários na Fajã Grande das Flores, de onde era
natural, ficou, ainda, uns anos por casa, pois não havia recursos financeiros
para que continuasse a estudar, uma vez que tal desiderato implicava a
deslocação para outra ilha. Foi uma tia materna, emigrada na Califórnia, que ao
visitar a família em 1948, decidiu enviar as sobrinhas, Maria Leónia e mais
duas primas para o colégio de St.º António no Faial, onde completaria o antigo
5.º ano de escolaridade. Posteriormente segue para o Liceu Nacional de Ponta
Delgada, já a expensas do pai e irmão, para completar o 7.º ano do Curso Geral
dos Liceus – Área do Caldeirão (multidisciplinar). Findo este, mais uma vez se
colocam constrangimentos de ordem financeira para que pudesse prosseguir os
estudos no continente português, pelo que ingressa no Curso dos Correios em
Ponta Delgada, cidade onde estagiou e trabalhou durante algum tempo, antes de
regressar às Flores, onde viria a trabalhar nos Correios de Santa Cruz e das
Lajes, também por pouco tempo. Aberto concurso para colocação em diversos
postos dos CTT, e seguindo o conselho do pai, concorre para a Graciosa, onde é
colocada em 1960. Trabalhou nas estações de Santa Cruz, Luz e S. Mateus,
durante 23 anos. Casou em 1964, dias antes de fazer 30 anos, e teve duas filhas
(1965 e 1972).
Em 1982
é convidada pela Prof. Adelaide Teles a encabeçar a lista para a presidência da
Câmara Municipal de Santa Cruz da Graciosa, pelo PSD, partido do qual era
militante convicta. Ganhou as eleições em Dezembro de 1982. Foi a primeira
mulher a ganhar umas eleições autárquicas nos Açores e, ao tempo, uma das poucas
no País. Foi eleita, novamente, em 1986, para um segundo mandato, por larga
maioria de votos, Leónida enquanto presidente tinha uma forte preocupação em dotar a população de melhores
condições habitacionais, pois havia muita pobreza neste campo, nomeadamente a
carência de instalações sanitárias/casas de banho, e a continuação da
reconstrução e realojamento das famílias atingidas pelo sismo de 1980. Ainda hoje é carinhosamente recordada pela população, que com ela
contactou, como a “senhora ou nossa
presidenta”, quando por vezes as filhas têm necessidade de se
identificar como sendo filhas da Leónia, respondem com saudade: ah, é filha da sara Presidenta, sempre
acompanhado de palavras de conforto e simpatia.
Presidiu
à Assembleia Municipal de 1990 a 1993, e foi representante do Governo Regional
no Conselho de Administração da Gracitur – Sociedade de Investimentos
Turísticos da Graciosa, SA.
Era uma
pessoa muito devota e religiosa, tendo também sido catequista. Rezava o seu
terço, diariamente, na igreja do Senhor St.º Cristo. Era uma pessoa simples na
sua maneira de estar e ser, sem grandes vaidades, pautou-se sempre por uma
verticalidade e honestidade em tudo o que fazia, fiel aos seus princípios e
valores morais e cristãos, que fazia questão de praticar. Foi, sobretudo, uma
mãe e esposa extremosa.
Maria Leónia Fagundes Pereira vinha a falecer a 26 de Janeiro de 1998 no Hospital de Santo Espírito em Angra do Heroísmo, para onde foi evacuada no próprio dia.
Mais uma individualidade que a Rádio Graciosa destaca aqui na sua antena