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Rádio Graciosa


25 novembro 2021

Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres

A Direção Regional para a Promoção da Igualdade e Inclusão Social, em parceria com o Núcleo de Iniciativas de Prevenção e Combate à Violência Doméstica da Santa Casa da Misericórdia da Praia da Vitória, assinala o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres que se comemora no dia 25 de novembro. 
Esta iniciativa regional pretende dar voz às pessoas vítimas de violência doméstica, através da divulgação em vários jornais da Região Autónoma dos Açores, dos seus testemunhos de histórias de superação, passando assim a importante mensagem a quem é vítima de que pode ultrapassar a situação e que esta pode acabar bem. 
 Apresentamos abaixo um destes importantes testemunhos.


1) Lembra-se do motivo que levou ao seu acompanhamento pela Rede ou Pólo de Prevenção e Combate à Violência Doméstica? Quer partilhar connosco o que aconteceu?

Sim, lembro-me muito bem. Foi no dia 30 de setembro deste ano. Estava muito nervosa, porque ia a tribunal. Era a leitura do julgamento do meu caso de violência doméstica. Estava a passar à frente da Câmara Municipal e como tenho epilepsia, comecei a sentir-me mal e sentei-me na beira do passei com medo que me desse um ataque. Passou uma senhora que foi pedir ajuda a uma funcionária da Câmara Municipal e eu contei o que estava a passar. Esta mesma senhora indicou o Pólo de Prevenção e Combate à Violência Doméstica da ilha onde resido. Aos 14 anos fui abusada sexualmente por um tio, que acabou por fugir para outro país. Como a minha mãe não acreditou fui viver com a minha avó, que foi muito minha amiga e uma segunda mãe para mim. Deste abuso nasceu o meu filho que acabou por falecer aos 5 anos de idade. Entretanto, conheci o meu ex-marido num lar de acolhimento onde eu vivia. Nos primeiros anos de vida em casal foi tudo muito bom. Tive a minha filha, o meu ex-marido era um cozinheiro “mão cheia” como se diz, enfim, tínhamos uma vida razoável. Passado algum tempo ele começou a beber muito. Chegava a casa sempre bêbado. Maltratava-me, chamava-me “puta” e batia-me onde a mão apanhava.  Lembro-me de uma vez, que o meu ex-marido tentou matar-me, colocando as suas mãos à volta do meu pescoço. Com isto tudo saí de casa, arranjei um trabalho e mudei de ilha.


2) De que forma a Rede ou o Pólo de Prevenção e Combate à Violência Doméstica o/a ajudou a lidar com este acontecimento da sua vida?

O Pólo de Prevenção e Combate à Violência Doméstica tem sido o meu suporte, porque há uns anos atrás também eu já me tentei matar. Nesta altura a vida não tinha sentido para mim. 


3) O processo de violência doméstica é, por si só, um processo complicado. Que dificuldades sentiu ao longo do mesmo? Como as ultrapassou?

A maior dificuldade foi sentir-me sozinha. Os meus irmãos não me falam. A minha filha estava noutra ilha. A minha avó já tinha falecido e comecei a pensar que não fazia falta a ninguém. Fui até ao mar para me atirar, mas encontrei aí uma senhora que me pôs a mão e que se tornou a minha grande amiga. Devo-lhe muito. Todos os dias ultrapasso muitos obstáculos que tenho cá dentro de mim, conto com a ajuda do polo e dessa minha amiga. Não conto muito com a minha filha, porque ela também tem os seus problemas.


4) Sente que se tornou uma pessoa diferente ao longo deste processo? Que conquistas alcançou?

Sim, hoje sou uma pessoa diferente. Embora marcada pelo passado e maior conquista foi a paz interior. Não há dinheiro que pague isso.


5) Que objetivos tem para o seu futuro?

Neste momento o meu maior objetivo é Deus dar-me saúde e arranjar uma casinha com condições para viver, porque trabalho não falta. 


6) A violência doméstica continua a ser uma realidade que afeta muitas pessoas. Que conselho daria a quem esteja a vivenciar uma situação destas?

O meu conselho é que não se deixem ser maltratadas e humilhadas. Também somos seres humanos e temos o direito de sermos respeitadas. 

 Caso tenho conhecimento de alguma situação de violência doméstica contacte a Linha Regional Contra a Violência Doméstica (800 27 28 29).


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