O presidente da Empresa de Eletricidade dos Açores (EDA)
admitiu à agência Lusa que existe um “impasse” no projeto de energias
renováveis previsto para a ilha Graciosa, devido a um “desentendimento” entre
acionistas da companhia Graciólica.
Duarte Ponte referiu que, “a demora nada tem a ver com a EDA,
que tem sido expectante neste processo, tem assegurado todas as condições para
que a Graciólica coloque energia na rede, mas a Graciólica, por alterações na
sua composição societária, criou aqui um impasse que está a ser ultrapassado”.
O responsável máximo pela EDA adiantou que o “desentendimento
entre acionistas”, nomeadamente entre a dinamarquesa Younicos e a alemã
Recharge, foi motivado pela “alteração de ‘software'”, para este projeto que
promete que 65% de energia consumida na ilha Graciosa, seja proveniente de
fontes renováveis.
“Houve uma alteração na composição da empresa, portanto, a
Younicos, que era maioritária ou que respondia por toda a empresa, deixou de o
fazer e os novos donos da empresa resolveram alterar o ‘software’, alegando que
o anterior não era capaz por si só de resolver os problemas na rede”, disse.
Duarte Ponte explicou ainda que os primeiros testes foram
feitos em setembro passado e tiveram “sucesso”, mas entretanto foi contratada
uma nova empresa, a Green Smith, para fazer “um novo ‘software’ e alterar
equipamentos”, prevendo-se que em setembro sejam feitos “testes da rede já com
os consumidores”.
“Esses testes são supervisionados pelo Instituto de
Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESCTEC), com a
presença da EDA, porque é a EDA que tem sempre a responsabilidade pela
qualidade de energia que é colocada na rede e nós pensamos que será possível
até ao final deste ano. Isso não depende de nós, mas sim de a empresa colocar
essa energia na rede”, afirmou.
O presidente da EDA lembrou que “há um memorando de
entendimento entre a Graciólica, a EDA e a ERSE” (Entidade Reguladora dos
Serviços Energéticos) que deve ser cumprido, porque este projeto “já deveria estar
pronto há mais de um ano” e o atraso tem “prejuízo” para a própria EDA.
“Estamos pacientemente à espera de que a Graciólica coloque
energia na rede, porque nós tínhamos dois aerogeradores na ilha, retirámos
esses aerogeradores para que aquele projeto tivesse efetivamente sucesso. Não
estamos a produzir energia renovável na ilha Graciosa como poderíamos estar,
estamos a ter prejuízo nesse aspeto para dar espaço para que haja aqui um
projeto completamente diferente e novo com que nós também gostaríamos de
aprender, mas estão a demorar demasiado tempo”, sublinhou.
O porta-voz da Younicos adiantou à agência Lusa que este
“desentendimento legal e comercial” com a sócia Recharge, que já foi parar aos
tribunais, poderá comprometer o contrato de aquisição de energia com a ERSE
para um projeto que custou 24 milhões de euros e recebeu quatro milhões e meio
de fundos comunitários.
“Por causa de o projeto ser tão especial, nós conseguimos o
apoio do regulador português do sector e da União Europeia. Claro que tenho
receio que se se voltar atrás para um projeto standard a União europeia e
talvez também a ERSE venham reclamar que este não foi o projeto acordado e que
o apoio dado foi para um projeto especial”, disse Philip Hiersemenzel.
O porta-voz da Younicos teme que a ilha Graciosa, no grupo
central do arquipélago dos Açores, perca assim a oportunidade de ser “uma
montra internacional” para o primeiro sistema mundial de energia renovável em
rede e à escala de megawatt.
“Na Younicos estamos a trabalhar num projeto realmente
inovador e experimental que vai transformar a ilha Graciosa em dez anos e o que
faz este projeto ser diferente de qualquer projeto do universo de energias
renováveis em todo o mundo é que pela primeira vez é possível alcançar 100% de
energia através do sol e do vento e não estar dependente de combustíveis
fósseis”, disse.
Fonte oficial da empresa alemã Recharge afirmou, no entanto,
que o projeto está a ser cumprido “dentro dos objetivos” e em “fase de
concessão numa estreita cooperação com a EDA”.
A Antena 1 Açores adiantou que “as duas empresas,
desentendidas por causa da escolha do software, enfrentam-se em tribunal”.
Fontes: Lusa/+Central/Antena 1 Açores