Por vezes somos obrigados a repetir, à
saciedade, que o Governo é que é dos Açores e não os Açores que são do Governo!
Vem isto já na sequência do que havia escrito
na passada semana sobre as teses pré-eleitorais do partido no poder de que, quem
fala mal do governo, quem critica ou denuncia insucessos, quem exige mais e
melhor e não gosta de ver as ilhas a apresentar maus resultados está a falar
mal dos Açores!
Se nos bastasse a referência de um ou outro
articulista a quem tenha sido oferecida uma viagem pelas belezas das ilhas e que
depois publica que somos o melhor lugar do mundo. Se isso fosse determinante
para fixar jovens na sua terra, para termos cuidados de saúde exemplares, para
sairmos da cauda dos indicadores sociais ou para demonstrar pujança económica e
coesão territorial, andávamos todos encantados da vida a saborear os sucessos
das políticas socialistas. Mas isso apenas basta a uma determinada elite do
poder, dele dependente na sua caminhada social, e que recorre ao argumento
estafado e absolutista de que, quem não está com eles, está contra todos e,
melhor ainda, não está cá a fazer nada.
Todos já sabemos que assim é e que isso serve
apenas para distrair atenções, para intimidar críticas ou denúncias, queixas ou
descontentamentos, pois que quem critica e exige melhor não gosta da sua terra,
das suas gentes ou dos seus vizinhos, e o melhor é acomodar-se, calar-se e
contentar-se com o que tem.
Um verdadeiro garrote a qualquer oposição,
seja política, ideológica, ou comercial, ao querer defender uma comunidade, uma
ideia ou um negócio.
A confirmar este rebuço que se arroga estar do
lado da realidade dos Açores, das pessoas, e das suas verdadeiras vivências foi
publicado, no passado dia 19 de Maio, um estudo realizado pela
primeira vez nos Açores, que tem como
objectivo “medir o posicionamento e a evolução do desenvolvimento de cada ilha
no contexto regional, entre 1980 e 2010, nas vertentes económica, social e
ambiental”. O estudo é do serviço de estatística dos Açores, tutelado pelo
poder regional, quem sabe, assim, não nos acusam de inventar.
Um dia depois, um destacado dirigente
socialista da ilha Graciosa, reafirma a tese do poder com 20 anos de que quem
se atreve a falar mal do governo está a falar mal dos Açores e o melhor é ir
criticar para outro lado.
Mas não reparou o empenhado dirigente que, na
véspera, o referido estudo mostra a ilha Graciosa, a sua ilha, como a pior de
todas em todos os indicadores sobre o desenvolvimento dos Açores. E se nas
décadas de 80/90 a Graciosa ainda ia superando, aqui e ali, o Corvo ou mesmo S.
Jorge, a partir de 2000 a Graciosa passou para último lugar “num modelo
conceptual que aborda a questão da coesão territorial (processo de promover um
território mais equilibrado e coeso) nas três vertentes ou dimensões de análise
da coesão previstas na Estratégia Europa 2020, isto é, Competitividade/Eficiência
Económica (Smart Growth ou Qualitative Islands), Inclusão
Social (Inclusive Growth ou Equal Opportunities Islands) e Sustentabilidade
Ambiental (Sustainable Growth ou Green Islands).”, ou seja, em
2010, últimos em tudo!
É triste ter de ver o quanto se tem perdido em
oportunidades de melhorar a nossa terra. A isso soma-se a tristeza por ainda
haver quem, tendo tido o poder de mudar, quer apenas obrigar a que nada mude!
O estudo citado pode ser consultado em: http://estatistica.azores.gov.pt
(Indicador Compósito de Desenvolvimento Intra-Regional).