O Primeiro-ministro, António Costa, visitou a ilha Graciosa
onde jantou e pernoitou no âmbito da anunciada cimeira entre os governos
regional e nacional.
É certo que houve felicidade em algumas hostes pela visita
de Estado à ilha Graciosa. Houve até quem achasse que era a primeira vez que
tal acontecia, esquecendo que já antes Sá Carneiro, Pinto Balsemão e Cavaco
Silva tinham visitado a pequena ilha Graciosa, na qualidade de chefes de
executivo. Mas isso até nem interessa muito, pois já sabemos que estas coisas
levam sempre a alguns momentos de memória selectiva, própria dos momentos
políticos e adaptada às intenções propagandísticas que mais interessam.
É sempre bom receber na nossa terra um visitante ilustre,
com vasta comitiva, o que gera expectativas altas e desejos de que sejam dadas
respostas a problemas mais sérios.
Não é de ignorar que isto sucede porque em terras mais
isoladas, onde os problemas se avolumam de ano para ano, os habitantes suspiram
com a possibilidade de uma qualquer solução ou de uma qualquer resposta que vá
ao encontro do seu desejo de ver a sua terra andar para a frente e sair de um
certo desânimo colectivo que aflige boa parte da comunidade.
Não seria de esperar que, numa noite, o Primeiro-ministro
desse resposta às muitas necessidades de uma ilha como a Graciosa ou sequer que
desse qualquer resposta a qualquer dos problemas que a afligem nos transportes,
na agricultura, nas pescas, na desertificação humana ou na saúde, até porque,
mesmo que não o notem os graciosenses, existe um Governo Regional que detém
competências próprias nessas matérias e que visita a ilha, uma vez por ano, em
visitas estatutárias onde, ciclicamente, estão ausentes as respostas para as
grandes questões da ilha.
Talvez por isso o Primeiro-ministro tenha feito uma visita
mais inclinada para a vertente do “passar por cá”, visitando dois projectos na
área científica, cuja importância para a ciência não se ignora.
Curiosamente, o voo que transportou a comitiva governamental
chegou com algum atraso, aterrando só pelas 19 horas o que sendo primavera não
tem qualquer problema, mas que nos faz pensar que se fosse de inverno já não
poderia vir, pois a pista não tem iluminação certificada, impossibilitando voos
a essas horas.
Já o Presidente do Governo Regional, que acompanhou a vinda
de António Costa à Graciosa, limitou-se a um passeio, ou melhor, a uma voltinha
de bicicleta, sem revelar qualquer outro interesse nas questões da ilha, que,
estou certo, o vão ocupar na última visita estatutária da presente legislatura,
invocando empenho desmedido em soluções que, lamentavelmente, não apresentou
nestes 4 anos de mandato.
Foi por isso uma pena que não se desse conta dos problemas
que o isolamento tem provocado na ilha Graciosa, nem sequer dar a conhecer as
potencialidades turísticas da ilha ou as reconhecidas potencialidades
produtivas, não ficou o governante a saber das dificuldades de transportes, da
crise pela qual passou o turismo no último ano ou da saga que se vive no acesso
a cuidados de saúde com as crescentes e recorrentes queixas da população.
Para o Primeiro-ministro Costa, a Graciosa passou
despercebida das preocupações – não revelou ter tido conhecimento de nenhuma –
e ficou apenas com o desejo de voltar para férias, o que assinalamos com
satisfação, pois faz falta turistas.
Para os Graciosenses a visita de António Costa ficou aquém
das expectativas e muito longe do desejável. Fica para a próxima!