São já quase diárias as exteriorizações que assinalam o
estado a que se chegou em termos político-sociais nos Açores.
Das empresas públicas usadas e abusadas pelos interesses da
caça ao voto e da sustentação de dependências, passando pela insistente e
arrogante catequização de um poder absoluto que impõe uma espécie de razão
totalitária, impingindo a sua doutrina na história contemporânea
"oficial", não esquecendo os tiques de guardiões vigilantes de
comportamentos subversivos, como uma polícia de costumes, que onde quer que
haja alguém que conteste o seu livre arbítrio maioritário logo faz notar a sua
presença.
Para se ter chegado a este ponto em que já ninguém sabe onde
começa e acaba o poder do partido e o poder conferido pela autoridade pública,
damos connosco a confundir os representantes do povo com os vigilantes do
descontentamento popular.
E este poder de duas décadas de exercício gerou, por entre
injustiças e ingratidões, uma ineptidão para inovar e ousar fazer melhor ou
fazer diferente.
Ao fim destes 20 anos em que há já uma geração que não sabe
fazer outra coisa além de ser de uma determinada organização política de
juventude para depois chegar a um qualquer cargo político de pré-idade adulta
para, com alguma sorte, poder vir a ser director de qualquer coisa ou
administrador de uma qualquer empresa do partido... perdão, queria dizer do
Estado!
Por fora desta "elite"(entre aspas por isso mesmo)
que se deleita nos jogos de lugares e de cargos remunerados, corre uma maioria
de outros talentos, esses sim, com ânsias de levar avante novos projectos de
desenvolvimento da sua terra ou do seu projecto profissional.
Nesta proliferação de comissários políticos, investidos na
condição de qualquer coisa de importante, perdeu-se o ensejo de fazer coisas
novas, de empreender, de ousar pensar e de ter iniciativa, a sua simples missão
é de controlar as massas (em duplo sentido) assegurando que onde umas se
abespinham, outras mantêm a orquestra a tocar.
Este é o preço que andamos a pagar numa região governada há
20 anos por um mesmo poder, perdido no seu labirinto de razões e de verdades
absolutas.
E enquanto não forem os açorianos a querer um tempo novo,
não podemos esperar melhor daqueles que só conhecem o tempo que está velho.
Gastos nas ideias, usados nos procedimentos, repetentes nos erros e
persistentes na teimosia. a nossa sociedade começa a sufocar com tanta verdade
formatada ao sabor dos interesses políticos. Não se pode levar uma região ao
progresso quando o manto do poder é inquestionável, inultrapassável e
insondável.
E se a isso se somam escolhas infelizes de pessoas que
saltitam de cargo em cargo, apenas porque sim, porque não têm mais nada que
fazer e porque sabem coisas deste, daquela e do outro e não se pode deixar de
ajudar quem é chegado e não se quer inconveniente.
Ainda assim, e sem ser munidos de um super-poder, há aqueles
que são a excepção que confirma a regra. Como seria bom que outros mais
pudessem ter diferentes oportunidades, muitas que ficam pelo caminho da falta
de senso de um qualquer missionário do poder.
Este estrangulamento do pensamento e da livre iniciativa
começa a pesar em demasia nos Açores do nosso tempo, mas já vai transpirando
alguma ânsia pelo fim deste sistema, mesmo que isso possa ser censurável por
quem se julga acima da perfeição.
E como têm sempre razão e não cometem erros, provavelmente
só se darão conta do final de festa quando já só existirem as cinzas.