No próximo ano terão lugar eleições regionais nos Açores.
Nessa ocasião, haverá jovens que votarão, pela primeira vez, para eleições regionais
sem nunca terem conhecido outro governo regional que não o actual, liderado
pelo PS.
Só isso devia ser suficiente para se reafirmar que "20
anos no poder é muito tempo". A frase é conhecida e foi proferida por
Carlos César, quando era líder da oposição. Depois disso o PS venceu eleições e
César prometia ficar no máximo três legislaturas no poder. Ficou quatro
enquanto Presidente do Governo e o PS vai para cinco legislaturas à frente do
executivo açoriano.
20 anos de poder é tempo demais. Criam-se vícios e rotinas
de decisão que se tornam anacrónicos. Alimentam-se pequenos poderes por essas
ilhas e concelhos fora, e instalam-se no poder demasiados interesses
contraditórios que, hoje, perdem mais tempo a ver quem manda mais do que a ver
se resolvem os problemas.
Por mais que tentem trazer algumas caras novas para o seio da governação, o
rejuvenescimento do exercício do poder, por parte de um partido que o exerce há
já 20 anos, anda sempre de braço dado com o peso de um passado que, ora
condiciona a inovação ou revogação de medidas, ora obriga à manutenção de
opções que mesmo tendo resultado no passado, revelam-se impotentes para
enfrentar o futuro.
A governação dos Açores está eivada de situações que
consistem numa recorrente incapacidade para mudar procedimentos, inovar nas
políticas ou impedir os condicionalismos que se foram formando em 20 anos de
exercício de poder.
Só o facto de haver quem esteja em exercício de cargos
públicos por conta do partido do poder, há quase duas décadas, é sinónimo de
uma baixa expectativa para contornar os entraves à decisão. Seja porque não há
abertura para novas soluções, seja porque a própria máquina que confunde
partido com governo impede que se tomem medidas que, aqui e ali, mexem com
algum poder de circunstância.
O próprio Presidente do Governo está na política desde que o
PS assumiu funções de governo, nos idos de 1996. Começou como deputado,
passando a líder parlamentar, daí a Secretário Regional da Presidência, depois
da Agricultura, passando para a Economia e, agora, como Presidente do Governo.
No próprio Governo existem vários titulares que pouco mais
conhecem na política e no seu exercício do que os meandros do PS e os critérios
de escolha condicionados às simpatias ou facções que se movimentam nos
equilíbrios de forças internos. Fora do Governo, vivemos rodeados de quem tem,
há já duas décadas, algum tipo de poder na sociedade açoriana, e na própria
bancada parlamentar do PS encontramos os ex-governantes, ex-gestores ou
ex-qualquer coisa que teve ligação com o poder ou o seu exercício nos últimos
vinte anos.
São demasiados os problemas que os Açores enfrentam que não
se compadecem com velhas receitas que se vão revelando ineficazes para dar a
volta às questões mais prementes da sociedade açoriana, como sejam os baixos
rendimentos e a extrema dependência do apoio do Estado por parte de uma boa
parte dos cidadãos.
Já se sabe que para um poder bem acomodado uma das maiores
ineficiências resulta da ambição de se perpetuarem em funções, consagrando a
necessidade de tudo e todos dependerem de uma certa bondade governamental para
as respostas mais imediatas que necessitam na sua vida.
As mudanças de que os Açores precisam não passam por mais 4
anos de poder de um partido que já só se conhece a si e aos seus interesses.
20 anos de poder é, de facto, muito tempo!