O toque de Midas
O Rei Midas, certo dia, encontrou vagueando Sileno, pai
adoptivo de Baco, ou Dionísio, Deus do vinho e cuidou dele entregando-o ao
filho bem tratado e salvo. Baco, como recompensa, disse a Midas que lhe pedisse
o que quisesse. Midas pediu que em tudo quanto tocasse se transformasse em
ouro. Baco, algo contrariado, concedeu o desejo e Midas passou a ter o toque do
ouro!
O resto da história nem é muito para aqui chamada mas acaba
com o arrependimento e a conversão acompanhadas pelo perdão.
Nos Açores não temos um Rei Midas, se bem que temos
bastantes tesouros, mas temos o toque de um sistema que rivaliza com Midas na
posição diametralmente oposta.
Em apenas 18 anos, o sistema maioritário do socialismo
insular criou uma rotina que açambarca o nosso destino comum tocando em tudo e
transformando tudo o que toca em valor negativo - mais ao menos o contrário do
valor do ouro.
Nestes 18 anos multiplicam-se por mais que 10 o número que
existia de empresas do sector público empresarial regional.
O sistema político maioritário passou a ter intervenção em
todos os sectores de actividade, tendo uma relação de valor hierárquico com a
comunidade nos seus mais variados domínios.
Para tudo lá está o Estado Regional, sempre representado por
algum titular muito conceituado no seio dessa maioria.
Os titulares não são de modas, onde mandam, mandam! E onde
tocam vão deixando a marca do que se tornou o socialismo dos Açores: em tudo
quanto toca cria problemas!
É, portanto, o inverso do toque de Midas.
Mas a diferença para com o Rei, generosamente tratado por
Baco, não se fica pela inversão do resultado do toque. Também nos Açores a
história não dá como lição nem o arrependimento e muito menos qualquer espécie
de conversão. Tem beneficiado de um perdão quadrienal, mas isso fica para a
conversão e o arrependimento colectivo.
Ao contrário da lição de Midas - que angustiado por ter
tornado em ouro a própria filha, entre outros dissabores, veio clamar a Baco
que acabasse com o "dom" recebido - nos Açores os titulares do toque
que tudo tem afundado na região recebem sempre o prémio do serviço a uma causa
maior, mesmo que imperceptível, que procurou sempre segurar no poder um partido
e uma maioria, estendendo um tentacular, e agora ruinoso, domínio da sociedade
e das instituições.
Da Sata à Sinaga, passando pelos Casinos e Termas, das
incidências do transporte marítimo, que vão da falhada construção de navios às
tragédias humanas mais recentes. Das recomendações do Tribunal de Contas nunca
cumpridas, às denúncias recorrentes da oposição. Dos avisos, das advertências,
das PPP que vão onerar o futuro de gerações, até à falência da lavoura. Da
ruinosa gestão nas pescas e dos recursos do mar ao afastamento entre o desígnio
comum das nove ilhas. Dos PECA, PIT e demais planos e estratégias, em tudo isto
e muito mais que levaria 18 anos a contar, não conseguimos encontrar qualquer
arrependimento. Até pelo contrário, existe é orgulho e promoções dos titulares
que nos trouxeram até aqui!
Já nem questiono o porquê de estarem os Açores a serem
conduzidos a estes resultados, sem que alguém seja responsabilizado politicamente
dada a inconsciência dos titulares que continuam convencidos de que um qualquer
toque seu só pode melhorar o que qualquer entidade, mesmo que insondável, tem
vindo a arruinar.
Os desafios para quem terá de reverter o toque do socialismo
açoriano com 20 anos de governação serão, porventura, dos maiores que estas
ilhas irão enfrentar.
Oxalá Baco nos perdoe!